São Paulo, quarta-feira, 3 de dezembro de 1997
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Prozac na merenda

GILBERTO DIMENSTEIN

Transformados em instrumento disciplinar, antidepressivos entraram no cardápio da merenda escolar dos norte-americanos.
Numa evolução crescente, o medicamento já é consumido regularmente por 600 mil crianças e adolescentes. Calcula-se que, nos EUA, 4 milhões de crianças sofram de depressão.
Nos últimos 12 meses, segundo a indústria farmacêutica, cresceu em impressionantes 47% o número de receitas de Prozac para jovens de até 18 anos.
Pais e professores festejam, vendo nas drogas a solução tão esperada para filhos rebeldes e alunos incontroláveis, dispersivos e, muitas vezes, agressivos.
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De fato, há sinais de melhoria com a merenda química.
Estudos lançados por faculdades de psicologia e medicina registram testemunhos de mudanças de comportamento.
Em curto prazo, alunos cronicamente desinteressados passaram a desenvolver capacidade de concentração e facilidade de convivência social.
Frequentemente pais e professores usam a palavra "milagre" para definir como mudaram seus filhos e alunos, vendo seus lares e salas mais tranquilos.
Até que ponto é mais uma moda movida a ignorância, com perigosos efeitos colaterais?
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As associações de psiquiatria e pediatria dos EUA tentam há vários anos reduzir a ignorância sobre distúrbios de comportamento, em especial a depressão.
O objetivo é mostrar que depressão não é falha de caráter. É uma doença, como gastrite ou câncer. Logo, deve ser encarada com normalidade, transparência, utilizando-se todos os recursos, entre eles remédios.
Desconhecer que depressão, entre outros desvios de comportamento, pode ter um fundo exclusivamente químico, é sinal de ignorância -mas associações de pediatria e psiquiatria enfatizam que sair receitando pílulas também pode ser desinformação.
Os antidepressivos, alertam, são em muitos casos apenas um truque de curto efeito; é necessário tratamento terapêutico.
A imensa maioria dos pais não sabe nem sequer detectar em seus filhos sinais de depressão. Acham que a criança é preguiçosa e ficam insistindo com inúteis palavras de entusiasmo ou, pior, brigando.
A crise vai se avolumando, campo fértil para drogas e excesso de bebida. Não raro é uma explosão visível apenas nas tentativas de suicídio.
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PS - A Academia Americana de Pediatria acaba de lançar texto com dicas simples sobre como detectar depressão. Está traduzido para o português no seguinte endereço: www.aprendiz.com/

E-mail: gdimen@aol.com

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