São Paulo, quarta-feira, 3 de dezembro de 1997
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GEOPOLÍTICA VERDE

O atual impasse na conferência mundial sobre clima, no Japão, deixa claro, de uma vez por todas, que a preservação do ambiente é uma questão de economia política global que, como as demais, cria tensões diplomáticas importantes quando se pretende regulamentá-las de modo igualmente global. O conflito é ainda mais agudo quando a tentativa de controle afeta diretamente a competitividade de cada país.
Prevê-se que o encontro de Kyoto estipule, pela primeira vez, limites legais à emissão de gases que provocam o chamado efeito estufa, o superaquecimento do planeta. Os Estados Unidos lideram o ranking mundial dos poluidores. Os países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, os mais desenvolvidos, com exceção do México, são responsáveis por metade da emissão mundial de dióxido de carbono, o principal gás de estufa.
A União Européia, liderada pela Alemanha, quer metas de redução da emissão de gases, contra a quase isolada posição norte-americana de apenas estabilizá-la até o final da próxima década.
Os EUA temem que um acordo rígido em Kyoto crie uma versão verde do dumping social. Empresários e trabalhadores norte-americanos têm se oposto a pactos que liberam o comércio global, os quais teoricamente transferem empregos industriais para países mais pobres, onde se pagam salários menores e a legislação social é mínima. Seria o dumping social. Grandes cortes na emissão de poluentes, se restritos aos países ricos, encareceriam a produção norte-americana, exportando empregos para países em desenvolvimento, que poluem sem constrangimentos. Aliás, o próprio esforço de industrialização é por si mesmo poluidor.
As rusgas não podem ser, evidentemente, reduzidas a um conflito Norte-Sul, entre ricos e pobres, vide a divergência entre EUA e Alemanha. Mas a reunião de Kyoto mostra como a idéia de globalização é imperfeita para definir o estágio atual de internacionalização. Ainda é fantasiosa a idéia de um governo ou grande acordo globais sobre a melhor forma de promover o desenvolvimento.

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