São Paulo, quarta-feira, 3 de dezembro de 1997
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A burrice em questão

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - O lugar-comum garante que a ocasião faz o ladrão. Nem por isso desculpa-se aquele que rouba. Circunstancial ou não, o roubo prejudica alguém e, em alguns casos, a todos. Já a burrice, por não ser circunstancial, mas estrutural, é menos desculpável, embora muitas vezes ela só prejudique o burro.
De almanaque ou não, essa filosofia vem a propósito da entrevista do ex-presidente Fernando Collor à "IstoÉ" desta semana. Já ouvi uma complicada teoria sobre o efeito nefasto de Miami nos neurônios de seus frequentadores. Não a levei a sério, há burros em todos os lugares do universo. Mas agora vou reavaliar a questão.
Nas proximidades de um julgamento no STF, ele mostrou que nada aprendeu com a dura lição recebida, quando foi enxotado do poder sob graves acusações de roubo. O inacreditável ataque a Itamar Franco, que saiu do governo com uma taxa recorde de aprovação popular, revela sua imaturidade -para dizer o mínimo.
O argumento que invoca para recuperar seus direitos políticos é casuístico, esperto na superfície, mas ignorante no fundo. Ele renunciou na undécima hora, quando sabia que não tinha mais munição para defender seu mandato. O essencial, na questão, foi a avalanche de provas que o incriminavam. Essas provas ainda estão valendo até que ele consiga explicar como e onde conseguiu tantas "sobras da campanha eleitoral".
Demonstrando que continua fazendo pouquíssimo caso da realidade, ele afirma que sua retirada mensal da empresa familiar (que vive em dificuldades) é de US$ 100 mil. Limpos, sem descontos. Quem trabalha em comunicação sabe que são raríssimos os casos de retiradas limpas em tal magnitude e sem necessidade de reinvestimento. E ele não trabalha há algum tempo.
O STF deverá julgar o seu recurso nos próximos dias. Não sou juiz nem jurista, mas acho que ele deve continuar impedido, desta vez por burrice.

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