São Paulo, quinta-feira, 4 de dezembro de 1997
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FHC sente "boa vibração" de executivos

CLÓVIS ROSSI
DO ENVIADO ESPECIAL

O presidente Fernando Henrique Cardoso tinha um número político, e não econômico, para exibir como troféu ao grupo de 22 executivos-chefes de instituições financeiras com os quais tomou café da manhã ontem no Palácio de Buckingham.
Era o 288 a 112, placar com o qual a Câmara dos Deputados aprovou o aumento do Imposto de Renda, parte do pacote de esforço fiscal de R$ 20 bilhões.
"Foi uma demonstração muito importante de que, mais uma vez, Legislativo e Executivo estão unidos e que esse entendimento vai prosseguir", disse o presidente aos executivos, segundo o relato do porta-voz Sérgio Amaral.
O próprio presidente comentou com os jornalistas, na London School of Economics, que tinha a certeza da aprovação pelo Congresso: "Ontem de manhã (terça-feira) eu disse que isso ia acontecer e aconteceu."
Consequência, segundo o presidente: "O Congresso sentiu a importância dessas ações do governo e do próprio Congresso, o que tem uma enorme repercussão aqui."
Pelo menos na avaliação do próprio governo brasileiro, houve de fato "uma boa vibração" no encontro entre FHC e os representantes do setor financeiro, exatamente aqueles que estão se retraindo em relação aos chamados mercados emergentes, entre os quais o Brasil.
Confirma Peter Heap, ex-embaixador britânico no Brasil, agora na diretoria do HSBC, o grupo financeiro que comprou o Bamerindus: "O presidente vai se sentir muito encorajado (pelo encontro de ontem)".
Segundo Heap, não houve críticas nem comentários inconvenientes a respeito da ação do governo brasileiro, antes como depois da crise asiática.
O presidente aproveitou, aliás, a crise asiática para fazer uma pregação que pode ser traduzida, livremente, desta forma: senhores, tragam seu dinheiro da Ásia para o Brasil e o Mercosul, que oferecem condições mais confiáveis.
Uma das carências asiáticas, além de um passado mais recente ou até um presente de regimes fechados, é a falta de transparência na contabilidade dos bancos e no seu relacionamento com os grandes clientes.
Em todo o caso, não é unânime a avaliação sobre a transparência do sistema brasileiro. Mark Mobius, por exemplo, preside o fundo Templeton para mercados emergentes, gerencia, como tal, cerca de US$ 22 bilhões e disse ao jornal "Financial Times": "O grupo (Templeton) tem atuado como voz solitária ao demandar maior transparência em países como o Brasil."
Como Mobius não estava entre os convidados do café da manhã, a avaliação de FHC sobre o encontro foi exultante: "Foi excelente, entusiasmante mesmo. Todos estão muito dispostos a continuar investindo e, sobretudo, a continuar apoiando muito o que estamos fazendo no Brasil."
FHC usou o fato de o Congresso ter aprovado o aumento do IR para dizer que, "agora, o governo tem condições de manter os projetos para preparar o país para retomar sua trajetória de crescimento", no relato de Amaral.
(CR)

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