São Paulo, quinta-feira, 4 de dezembro de 1997
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O CIRCO DAS INVASÕES

A invasão do prédio do Incra e do Ministério da Política Fundiária, em Brasília, por militantes do MST, é um novo e intolerável retrocesso na atuação do movimento. Nos últimos meses, os sem-terra pareciam ter recuado um pouco na estratégia de fazer do desafio ostensivo à lei a sua principal arma política. Lembre-se ainda de que, no mesmo dia, 2.000 militantes do MST entraram em confronto físico com a polícia após terem sido barrados na tentativa de invadir a Assembléia Legislativa do Ceará.
Há, no entanto, uma diferença fundamental entre esses dois atos de vandalismo: a invasão de Brasília foi bem-sucedida, enquanto no Ceará a polícia cumpriu a sua obrigação de preservar a ordem pública.
É lamentável que o governo federal e a polícia do Distrito Federal não tenham mostrado a mesma disposição. A falta de energia das autoridades nessas situações cria um ambiente de estímulo à baderna. Pode-se mesmo dizer que tomar ministérios de assalto vem se tornando moda no governo Fernando Henrique Cardoso. Em março de 95, servidores demitidos invadiram o Ministério da Administração, chegando a derrubar portas, como fizeram agora os sem-terra. Em maio deste ano, foi a vez do ministério do Planejamento. Depois de tomarem o gabinete do ministro Kandir, sindicalistas ligados à Contag colocaram um peru sobre sua mesa de trabalho. Diziam os manifestantes que o animal simbolizava um governo de "muito papo e pouca ação", o que, ironicamente, parece correto pelo menos no que se refere à manutenção da ordem.
Espera-se agora que o governo finalmente mostre que sabe separar manifestações públicas, legítimas e mesmo vitais a qualquer democracia, de atos que afrontam a ordem legal e degradam a vida republicana.

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