São Paulo, sexta-feira, 5 de dezembro de 1997
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Companheiro de quarto distribui charadas

DA REPORTAGEM LOCAL

Você está num castelo e avista um corredor com duas portas -uma conduz à liberdade, a outra leva às masmorras.
O soldado que vigia a do lado esquerdo fala apenas a verdade. O que protege a do lado direito só conta mentiras.
Você não sabe qual a porta da liberdade e terá de encontrá-la formulando uma mesma pergunta para os dois soldados. O que você indagaria?
O enigma é um dos preferidos de Paulo Henrique Machado, 30, o paciente que divide o quarto A 123 com Eliana. Ele costuma lançar a charada pela Internet e diz que poucos descobrem a resposta.
Craque em computadores, mora no Hospital das Clínicas desde os 2 anos. Por causa da paralisia infantil, também não pode respirar mais do que seis horas sem um pulmão artificial, mas consegue movimentar os braços, o pescoço e a cabeça.
Como é capaz de se sustentar sobre uma cadeira de rodas motorizada, deixa o quarto todos os dias e passeia pelo HC. Visita sempre os funcionários da informática.
Às vezes, sai do hospital para pegar uma sessão de cinema ou comer hambúrguer.
Em frente à sua cama, há um microcomputador permanentemente plugado na Internet. "A rede é minha porta da liberdade."
Gasta horas em bate-papos eletrônicos. Nos primeiros contatos, nunca usa o próprio nome nem adianta nada sobre si mesmo. Prefere se esconder sob dois pseudônimos: Gatinho ou Hal 9.000.
"São facetas que criei para me relacionar com o mundo. Ponho em cada personagem características que desejava possuir."
Gatinho tem pouco mais de 20 anos e estuda no célebre Instituto de Tecnologia de Massachusetts (EUA). Bonito e galanteador (quando percebe que do outro lado está uma mulher), desfruta a vida com otimismo e leveza.
Já Hal 9.000, como o computador homônimo do filme "2001 - Uma Odisséia no Espaço", é calculista e determinado.
"Só conto quem realmente sou depois de conversar semanas com o mesmo interlocutor." Diante da revelação, as mulheres se mostram mais generosas que os homens. "Elas continuam me mandando mensagens. Eles frequentemente desaparecem."
Nas quase três décadas que passou dentro do HC, Machado jamais abandonou o sonho de voar. "Queria muito andar de helicóptero." Também gostaria de conhecer a Nasa. "As aventuras espaciais me encantam."
Viu cada um dos filmes da trilogia "Guerra nas Estrelas" 48 vezes. Chegou até a pintar um quadro com o vilão Darth Vader e o pendurou perto da cama.
Por que não retratou também o mocinho Luke Skywalker? "Prefiro os vilões. Estão mais próximos da realidade."
Quanto à resposta da charada, Machado não a revela. Quem quiser saber terá de lhe enviar um e-mail: paulohm@hotmail.com

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