São Paulo, sexta-feira, 5 de dezembro de 1997
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Filme combina informação e poesia

JOSÉ GERALDO COUTO
ESPECIAL PARA A FOLHA

"O Cineasta da Selva" é um documentário admirável por pelo menos duas razões.
Primeiro, por apresentar com clareza um personagem importante e pouco conhecido da cultura brasileira -o documentarista Silvino Santos-, em sua interação com o meio onde surgiu: a opulenta Amazônia do ciclo da borracha.
Segundo, por entregar generosamente ao público, restauradas e contextualizadas, as imagens magníficas do Brasil e de Portugal tomadas pelo próprio Silvino Santos.
Com um exímio trabalho de montagem (de Roberto Moreira), o filme concentra em sua primeira meia hora o máximo de informação sobre a história de Silvino e seu contexto.
Aprendemos ali tudo o que é preciso saber sobre a biografia do cineasta, a situação econômica da Amazônia, as condições tecnológicas do cinema etc.
Depois disso, as imagens de Silvino podem fluir com mais vagar, e o ritmo do filme se torna mais poético e envolvente.
Outros acertos foram a opção por uma encenação estilizada, não-naturalista, da vida de Silvino -valorizada pela atuação sóbria de José de Abreu- e a delicada tapeçaria sonora criada por Caíto Marcondes e Teco Cardoso.
Os depoimentos são quase sempre pertinentes. Há um momento em que testemunho e imagem se casam à perfeição: o filho de Silvino fala sobre as filmagens da pesca do pirarucu sobre uma frágil canoa. E a imagem mostra o esplêndido resultado da proeza.
Se há um reparo a ser feito, é à retórica sentimental de certas passagens do texto.
Isso é muito pouco para empanar a beleza de imagens como a de uma fileira de agonizantes peixes-boi, ou a de uma Copacabana quase deserta, pré-aterro. É a beleza atemporal e pulsante de imagens como essas que Aurélio Michiles nos oferece em seu belo documentário.
(JGC)

Filme: O Cineasta da Selva
Produção: Brasil, 1997
Direção: Aurélio Michiles
Com: José de Abreu, Denise Fraga
Quando: a partir de hoje, no Espaço Unibanco 3

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