São Paulo, sexta-feira, 5 de dezembro de 1997
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Ator é o britânico necessário ao cinema

MARCELO REZENDE
DA REPORTAGEM LOCAL

O ator Jeremy Irons é hoje, no cinema, o inglês necessário, ocupando o espaço que antes pertenceu a James Mason. Não por acaso os dois se encontram espiritualmente na nova versão de "Lolita".
Há então, nas pistas lançadas ao público, a idéia de que estamos diante de um ator que é quase um nobre. Há em Irons a fleuma, o sotaque e o sorriso desconfortável de um bem-nascido britânico.
Desmentir essa idéia é conceder ao ator o maior elogio, pois não se trata de um nobre, mas sim do filho de um funcionário público que optou pelas artes dramáticas em consequência de sua reconhecida incapacidade com os números.
E nunca, de maneira alguma, um conservador. Depois do aprendizado inicial, conhece o dramaturgo Harold Pinter, que lhe consegue alguns trabalhos na TV.
Mas Pinter lhe oferece também o cinema, quando é convidado a escrever a adaptação do romance "A Mulher do Tenente Francês", e concede a Irons a chance de ser protagonista na produção (antes, havia feito uma aparição em "Nijinski").
No filme, ele interpreta um cidadão da Inglaterra vitoriana indeciso entre seguir as regras sociais ou amar uma mulher com um passado condenável para os rígidos padrões morais do período.
Sua função, no filme, é a de um herói romântico, de um homem condenado ao que o futuro oferece. Por muito pouco, Irons não se torna um galã, um astro que sobrevive de autógrafos e fotos indiscretas em jornais de escândalo.
Mas sua carreira muda de rota. Participa de uma fracassada tentativa de levar a obra do escritor Marcel Proust ao cinema em "Um Amor de Swann". Passa também pelo "Kafka" do cineasta Steven Soderbergh.
Consegue se afastar da literatura -ao menos com qualidade incontestável- quando conhece o cineasta David Cronenberg, com quem faz "Gêmeos - Mórbida Semelhança" e "M. Butterfly".
Graças à ação de Cronenberg, a personalidade cinematográfica de Irons ganha muito em sofisticação -e, claro, também em perversão.
Um dado que o cineasta francês Louis Malle se apropriará em "Perdas e Danos", a história de um político britânico -com toda peculiar pose- que tem um caso com a noiva de seu próprio filho.
Sua última aparição foi em "Beleza Roubada", filme de Bernardo Bertolucci -dessa vez, interpretando um britânico que ama a liberdade. Um peculiar e involuntário comentário sobre as imagens de Jeremy Irons.

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