São Paulo, sexta-feira, 5 de dezembro de 1997
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Winnie depõe e declara ser inocente

JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
ENVIADO ESPECIAL A JOHANNESBURGO

Alucinações, mentiras e invenções foram três das palavras mais usadas por Winnie Mandela, ex-mulher do presidente sul-africano, Nelson Mandela, ao defender-se ontem das acusações de violação de direitos humanos na Comissão de Reconciliação e Verdade, em Johannesburgo.
Pela primeira vez Winnie Mandela se pronunciou na comissão. Nas sessões anteriores, havia apenas refutado todas as afirmações das testemunhas de acusação por meio de um advogado.
Na principal acusação, ela responde pelo sequestro de cinco garotos, no final dos anos 80, e pelo assassinato de um deles, Stompie Seipei, 14, encontrado morto a facadas em dezembro de 1988.
Winnie Mandela definiu as acusações como "ridículas". Segundo ela, os cinco rapazes foram levados para sua casa, no bairro negro de Soweto, como refugiados, já que estariam sendo abusados sexualmente pelo pastor Paul Verryn, hoje bispo metodista.
Verryn alega ter sido alvo de uma armadilha de Winnie, que estaria irritada com sua popularidade entre a comunidade de Soweto.
Sobre o depoimento de Jerry Richardson, condenado à prisão perpétua pela morte de Seipei, que disse que teria cometido o assassinato a seu mando, Winnie considerou-o uma "total alucinação".
Médico morto
Winnie qualificou de "absurdas" as declarações de Thulani Dlamini, que diz ter matado o médico Abu-Baker Asvat seguindo ordens suas.
O médico, que tratava a ex-mulher de Mandela, estaria contrário às suas atividades em Soweto, por violarem os direitos humanos.
"Ela me ofereceu 20 mil rands (moeda sul-africana, equivalente a cerca de US$ 4.500,00) para matá-lo, mas eu não vi a cor do dinheiro", afirmou Dlamini.
Winnie não só nega a acusação de Dlamini, que cumpre pena de 25 anos pelo assassinato de Asvat, como diz que gostava muito de seu médico particular.
"Tínhamos uma relação muito próxima. Ele era o único que clinicava em Soweto, que ajudava a comunidade numa época complicada", disse.
Durante o depoimento de Winnie, que foi acompanhado pela reportagem da Folha, a audiência não parava de se manifestar.
Em vários momentos, a platéia riu de suas declarações. Alguns chegaram a rir quando Winnie disse que as acusações contra ela eram alucinações.
O fato serviu para a ex-mulher de Mandela reafirmar sua teoria, segundo a qual está sendo vítima de uma campanha da imprensa para prejudicar sua imagem.
Conversas paralelas
O reverendo Desmond Tutu, que já ganhou o Prêmio Nobel da Paz e é atualmente o comandante da Comissão da Verdade e da Reconciliação, limitou-se a pedir que as pessoas não fumassem durante o depoimento. Em nenhum momento porém, reclamou das conversas paralelas.
A comissão está ouvindo pessoas que cometeram crimes por motivação política entre 1960 e 1994, quando terminou o apartheid, política de segregação racial.

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