São Paulo, sexta-feira, 5 de dezembro de 1997
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Mãe de vítima beija e abraça acusada

JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
DO ENVIADO ESPECIAL

A comissão que apura crimes cometidos durante o apartheid foi o palco ontem de uma reconciliação. Joyce Seipei -cujo filho adolescente teria sido assassinado, segundo acusações, a mando de Winnie Mandela- abraçou e beijou a ex-mulher do presidente sul-africano, Nelson Mandela.
Em 1991, Winnie foi absolvida no julgamento sobre a morte de Stompie Seipei, em dezembro de 88. Foi condenada, porém, pelo sequestro do garoto. Jerry Richardson, técnico de futebol e guarda-costas de Winnie, foi culpado pelo assassinato. Ele cumpre pena de prisão perpétua, mas diz ter apenas cumprido ordens de sua chefe.
O inesperado beijo aconteceu no momento em que o bispo Desmond Tutu, comandante da Comissão de Reconciliação e Verdade, convocou os parentes das vítimas do terror a se apresentar diante da corte.
Joyce Seipei, presente em todas as sessões da comissão relativas à ex-mulher de Mandela, disse ter sido molestada, no início da semana, por partidárias de Winnie, que a encontraram a sós no banheiro do prédio da comissão.
A chegada ontem de Winnie ao salão comunitário de Johannesburgo foi tumultuada. Do lado de fora, centenas de mulheres exibiam cartazes defendendo a ex-mulher do presidente sul-africano. Anteontem, houve ameaças de bombas no local.
Apesar das acusações que lhe são feitas, Winnie continua gozando de popularidade entre a comunidade negra, a maioria no país.
Ativistas negros lembravam ontem de sua luta contra o apartheid, política de segregação racial que imperou na África do Sul até 1994.
Winnie, que ainda é chamada de "Mãe da África" pelos negros, dirige a Liga Feminina do Conselho Nacional Africano, presidido por Nelson Mandela. Apesar de ter a oposição da cúpula, candidatou-se à vice-presidência do partido.
A depoente entrou no salão às 8h33 locais (4h33 de Brasília), vestindo uma camisa verde e um tailleur azul. Como nos dias anteriores em que compareceu à comissão, estava de óculos escuros.
Aparentando tranquilidade, Winnie optou, ao ser indagada por Desmond Tutu, por responder às perguntas em inglês.
Ao terminar o depoimento, ela lembrou que fez questão de comparecer para evitar qualquer suspeita que possa existir sobre o seu comportamento. "Sou inocente", afirmou.
A comissão tem apoio do presidente Mandela, que se divorciou de Winnie no ano passado.
(JCA)

Com agências internacionais

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