São Paulo, sexta-feira, 5 de dezembro de 1997
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Conheça a rotina da comissão

JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
DO ENVIADO ESPECIAL

A Comissão de Reconciliação e Verdade foi formada com o objetivo de interrogar e, se for o caso, anistiar indivíduos que tenham cometidos crimes por motivação política nas últimas três décadas da história da África do Sul.
Presidida pelo arcebispo Desmond Tutu, a comissão não tem poderes de polícia. Não pode punir. No caso de Winnie, por exemplo, se o organismo achar que ela é culpada dos crimes que lhe são atribuídos, pode, no máximo, solicitar a reabertura do processo à Justiça.
A comissão realiza audiências públicas e privadas. As públicas são realizadas numa sala no centro de Johannesburgo. Desmond Tutu, que já ganhou o Prêmio Nobel da Paz, costuma iniciar as sessões e intervir, quando achar que é o caso.
Um dos membros da comissão faz as perguntas. O acusado tem direito a defesa. Seu advogado comanda o interrogatório das testemunhas de acusação.
Atrás do réu, costumam ser colocados cartazes com dizeres do tipo: "A verdade liberta, o silêncio mata."
O interrogatório pode ser feito em qualquer uma das 11 línguas oficiais do país. Além do inglês, fala-se na África do Sul africâner, ndebele, swati, tsonga, tswana, venda, xhosa, zulu, sotho do norte e sotho do sul.
A primeira pergunta que o interrogado responde, em inglês, é em que língua deseja que as perguntas sejam formuladas. Uma equipe de 15 tradutores e intérpretes trabalha para a comissão.
Formada pelo presidente Nelson Mandela, em 1995, além do julgamento de Winnie, a comissão teve momentos de glória quando representantes do Congresso Nacional Africano (CNA) e de Frederik de Klerk, ex-presidente branco último da era do apartheid, fizeram confissões sobre o assassinato de Steve Biko.
Ambições de Winnie
Mesmo não tendo poder punitivo, o trabalho da comissão pode machucar a imagem de Winnie, que já se lançou candidata ao cargo de vice-presidente do CNA, mesmo partido de seu ex-marido.
Como quem ocupa o cargo de vice do partido é o candidato natural à vice-presidência do país, as eleições internas no CNA, que serão ainda em dezembro, ganham maior importância. O mandato de Nelson Mandela termina em 1999.
(JCA)

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