São Paulo, sexta-feira, 5 de dezembro de 1997
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AMEAÇA DE IMPUNIDADE

A postergação dos julgamentos de cassação de deputados acusados de irregularidades pode ser um primeiro passo para a impunidade. Os processos contra suspeitos de venderem votos pela emenda da reeleição, de alugar o mandato e de cobrar propina para manipular o Orçamento foram relegados para 1998, fim da atual legislatura e ano eleitoral.
Reconheça-se que o Congresso tem realizado votações importantes. Lembre-se de que, apesar da atuação lamentável de alguns deputados, a Câmara rendeu-se aos imperativos da crise financeira e terminou aprovando a reforma administrativa, inclusive os dispositivos que encontravam maior resistência.
Mas seria ingenuidade ignorar a possibilidade de que alguns desses deputados tiveram os julgamentos adiados por pertencerem a partidos da base governista (PFL, PTB E PMDB), os quais deram votos pela aprovação dos projetos de interesse do governo e da presidência da Câmara. No final de julho, o líder do PTB ameaçava não votar as reformas se fosse cassado o deputado Pedrinho Abrão (GO), acusado de cobrar propina de uma empreiteira. E o julgamento não ocorreu.
Agora, o presidente da Câmara dos Deputados, Michel Temer, afirma que o objetivo dos novos adiamentos teria sido o de evitar que eventuais absolvições manchassem a imagem do parlamento neste fim de ano.
Trata-se, no mínimo, de uma tentativa de esconder do público as dificuldades políticas da Câmara para tomar medidas moralizadoras. Ou, ainda pior, de condenar deliberadamente ao esquecimento as suspeitas de improbidade e quebra de decoro parlamentar, contando que possíveis condenações serão ainda mais difíceis num ano ocupado pela eleição.
Fazer tábula rasa dessas suspeitas de corrupção é um passo atrás na tentativa de melhorar a política nacional. Retrocesso tanto mais vergonhoso se foi um modo de ajudar a aprovar medidas necessárias à estabilidade da economia.

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