São Paulo, sábado, 6 de dezembro de 1997
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Quem quer ser campeão não pode escolher

DUNGA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Não só eu, mas todos os jogadores do Brasil e dos outros 31 países que vão disputar a Copa da França acompanharam com atenção o sorteio dos grupos do Mundial.
Mesmo quem não conseguiu ver pela TV, por qualquer que fosse o motivo, quis logo se inteirar do que tinha acontecido.
Foi o caso do Zé Roberto.
Quando ele chegou aqui à África do Sul, a primeira coisa que fez foi perguntar pelos adversários do Brasil.
Agora, então, começam as especulações, quem deve ficar em primeiro, quem será o segundo, quais os times que serão eliminados logo de cara...
Um time que quer ser campeão não pode ficar escolhendo adversários.
Não é balela nenhuma, mas uma hora ou outra você fica diante de uma das chamadas potências do futebol.
É aquela história, se quiser ser campeão, tem de ganhar delas seja nas oitavas-de-final, nas quartas, nas semi ou na grande decisão.
Em 94, pegamos a Holanda, a Suécia, a Itália... Ganhamos de todas elas, mas um dos jogos mais difíceis acabou sendo contra os Estados Unidos, não só por jogarem em casa, por ser o dia da Independência deles, mas por contarem com um jogador a mais durante todo o segundo tempo.
Em 98, as coisas deverão ser ainda mais complicadas. Todos, mais ainda do que em 94, irão querer ganhar do Brasil. Afinal, somos os campeões mundiais.
Na primeira fase, acho que o jogo mais difícil será contra a Escócia. Não porque ela é melhor do que Noruega ou Marrocos, mas por ser o jogo de estréia, e, mais que ser jogo de estréia, o de abertura da Copa.
Uma coisa curiosa que notei na África do Sul foi a alegria que eles sentiram ao cair no mesmo grupo da França. Por jogar em casa, diante de toda sua torcida, os franceses seriam, pela lógica, os favoritos.
Mas os sul-africanos não pensam assim. Para eles, o fato de a França jogar em casa será um complicador, mas não para a África do Sul, e sim para os próprios franceses, que jogarão com toda a responsabilidade de ganhar nas costas.
Com o Brasil, o raciocínio pode ser parecido. Mesmo assim, confio em nosso potencial, em nosso trabalho, na dedicação que teremos para erguer, mais uma vez, o troféu.
Quanto às seleções da Noruega e do Marrocos, jogamos contra as duas recentemente.
Não que será fácil na França, porque hoje ninguém é mais bobo no futebol mundial. Posso dizer isso pela minha experiência no Japão. Os japoneses estão se esforçando bastante e evoluindo a cada ano.
A Argentina, que todo mundo está dizendo que pegou um grupo baba, também vai ter de jogar futebol como todo mundo. Como digo, ninguém se classifica na véspera, ninguém se classifica num sorteio.
Na hora do vamos ver, o que vale mesmo é jogar futebol.
*
Fiquei sabendo que Vasco e Palmeiras farão a final do Brasileiro. Uma decisão dura, interessante. Espero que os dois clubes consigam proporcionar belos espetáculos.

Carlos Caetano Bledorn Verri, o Dunga, 34, é jogador do Jubilo Iwata, do Japão, e capitão da seleção brasileira de futebol

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