São Paulo, sábado, 6 de dezembro de 1997
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Cenário supera música em "Fidelio"

IRINEU FRANCO PERPETUO
ESPECIAL PARA A FOLHA

São Paulo está encerrando sua temporada lírica com um "Fidelio" que tem a parte cênica bastante superior à musical.
Para a única ópera de Beethoven, o Municipal abriu mão do kitsch envelhecido dos cenários do teatro Colón, de Buenos Aires, que vinham sendo a tônica de suas produções, e alugou a cenografia da Ópera de Dusseldorf.
Resultado: o diretor cênico Tobias Richter mostrou uma concepção atemporal, despojada, coerente e inteligente.
Mas faltou música. Na noite da estréia, quinta-feira, a Sinfônica Municipal, do maestro Isaac Karabtchevsky, começou tocando muito abaixo de suas possibilidades, reduzindo a abertura da ópera a um opaco simulacro musical.
Na abertura "Leonore nº 3", no final do segundo ato de "Fidelio", tudo soou muito melhor. Porém metais e madeiras já haviam se atrapalhado tanto ao longo da récita que não foi possível consertar a má impressão inicial.
O Coral Lírico, do maestro Mário Záccaro, manteve seu habitual padrão de excelência. Entre os solistas, foram melhores os que fizeram os papéis secundários: o sólido baixo Hans Peter Koenig (Rocco), o arrebatado tenor Fernando Portari (Jaquino) e o belo timbre de Carol McDavit (Marzelline).
Daí para frente, a coisa se complicou, sobretudo com o decepcionante baixo-barítono John Wegner (Don Pizarro) e a problemática soprano Suzanne Murphy (Leonore). Com voz mais leve que a exigida pelo papel, Murphy tinha dificuldades com as mudanças de registro, desafinava e estreitava a voz nos agudos, passando para o público seu desconforto vocal.
"Fidelio" é uma ópera complicada, com uma lógica quase hostil ao teatro, e que costuma funcionar melhor ouvida do que vista.
Montar um espetáculo desses em São Paulo demanda coragem. Pena que o resultado alcançado por seus idealizadores não tenha estado à altura de sua audácia.

Ópera: Fidelio, de Beethoven
Onde: Teatro Municipal de São Paulo (pça. Ramos de Azevedo, s/nº, tel. 222-8698)
Quando: dias 4, 6, 10 e 12, às 20h30; dia 7, às 17h
Quanto: de R$ 5 a R$ 50

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