São Paulo, domingo, 7 de dezembro de 1997
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Crise pode favorecer reformas

ANTONIO CARLOS SEIDL
DA REPORTAGEM LOCAL

Lideranças empresariais ouvidas pela Folha disseram que a crise na economia dos países asiáticos teve um lado positivo para o Brasil, porque parece ter convencido os congressistas de que é necessário acelerar as reformas constitucionais.
Henrique de Campos Meirelles, presidente mundial do BankBoston, diz que a crise asiática mostrou a necessidade das reformas estruturais, deixando claro que o mercado não vai financiar o déficit em conta corrente (o balanço de todas as transações do país com o exterior) permanentemente.
"Ou cortamos agora, ou teremos problemas no futuro", afirma o executivo.
Hugo Etchenique, presidente do grupo Brasmotor, diz que a crise asiática sensibilizou os congressistas sobre a urgência em relação ao encaminhamento das reformas estruturais, indispensáveis ao fortalecimento da economia do país.
Deplorável
Horácio Lafer Piva, candidato à presidência da Fiesp, diz que a resposta à crise é o caminho mais deplorável para se chegar a uma ação que era claramente necessária desde o início do Plano Real.
Segundo Piva, a crise asiática também mostrou a fragilidade do Brasil, representada pelo déficit em conta corrente e pelos compromissos externos de curto prazo.
"Se estivéssemos sólidos, e nossa esperança é a de que agora o Congresso e o Executivo disso se convençam, não estaríamos correndo riscos de crises fiscal, externa e mesmo sociopolítica, esta dada pela soma de baixo crescimento e alto desemprego."
Carlos Eduardo Moreira Ferreira, presidente da Fiesp, diz que os efeitos da crise global no Brasil confirmam o que a entidade da indústria paulista está dizendo há muito tempo: que as reformas constitucionais são essenciais para a manutenção da estabilidade econômica.
"Se tivéssemos feito as reformas, não precisaríamos desse pacote tão duro que foi baixado."
Turbulência
Alfried Ploger, presidente da Abrasca, diz que a crise asiática vai acelerar as reformas, porque os políticos e a sociedade em geral "estavam seguros de que o Real navegava em águas tranquilas".
Eugênio Staub, presidente do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial) e do grupo Gradiente, diz que certas organizações e países trabalham melhor em regime de pressão.
"A questão da estabilidade dos funcionários públicos talvez não tivesse caído se não estivéssemos num momento de crise", afirma.
"Nada como uma crise para se consertar as coisas que normalmente não são tão agradáveis de serem abordadas."
(ACS)

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