São Paulo, domingo, 7 de dezembro de 1997
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Ave, FHCésar!

MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
EDITOR DE DOMINGO

Não é de se descartar, tratando-se de bom britânico, que o sr. Anthony Bowen tenha ingerido alguns "pints" a mais de "bitter" ao conceber o discurso, proferido em latim, no qual o presidente Fernando Henrique Cardoso foi comparado ao general Julio César.
Um Julio César com votos, frisou o inglês, que fez de FHC -doravante FHCésar- o governante ideal de Platão.
Combinou muito bem, aliás, com o presidente a pompa do cerimonial britânico. É, de fato, uma vocação para o poder paramentado.
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O tour britânico foi um belo espetáculo para brasileiro ver: FHCésar apareceu no filme do Primeiro Mundo, foi recebido na Babilônia do conto de fadas, andou de carruagem e brindou no palácio. Pena que tenha que retornar à triste abóbora de sempre.
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Outro show à parte foi a renovada "confiança" dos empresários ingleses no real. Num país monárquico, onde tudo é Real Academia, Real Hospital, Real Conservatório, talvez o nome da moeda ajude. Como diz o viajado Moreira Franco, numa publicidade do PMDB carioca, se deu certo lá, por que não daria aqui?
Dona Tetê, uma arguta senhora amiga minha, perguntou, ao ouvir na TV que os endinheirados do reino estão com o real e não abrem: "Ué, se esses europeus confiam tanto no real, por que será que quando a gente viaja para lá nenhum banco aceita a moeda brasileira?"
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A propósito, dona Tetê tem tudo para desconfiar dos governantes. Aposentada, não teve direito a escolher nem o banco nem a agência onde sua pensão passaria a ser depositada.
Foi obrigada a receber a mixaria no Banerj.
Tem que ir lá (ou mandar alguém) todo mês para encarar uma fila infernal e retirar o dinheiro no caixa. Não depositam na conta nem permitem saque eletrônico.
"É que o banco foi privatizado agora", explicou um funcionário.
É o Brasil retribuindo a seus idosos.
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"A Armadilha da Globalização", de Hans Peter Martin e Harald Schumann (jornalistas da revista alemã "Der Spiegel"), é leitura fácil e informativa sobre a incrível "sociedade 20 por 80" que ameaça conquistar o mundo.
O modelo 20 por 80 foi consagrado num célebre encontro de líderes mundiais, realizado em 95, no hotel Fairmont (San Francisco), tendo Gorbatchev como "host" da cartolagem.
A fórmula, como se sabe, alude à previsão de que no século que vem não será preciso aproveitar mais do que 20% da população apta a trabalhar para a economia mundial funcionar "normalmente".
E o resto? Eis a questão.

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