São Paulo, domingo, 7 de dezembro de 1997
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Empresários projetam 98

CELSO PINTO

Como ficou o ânimo dos empresários depois das turbulências externas, do salto nos juros e do pacote fiscal?
Provavelmente a primeira pesquisa significativa foi feita pela Internews no dia 28 de novembro, com 452 empresários presentes a um seminário sobre "O Que Esperar de 1998". Consideradas as circunstâncias, os resultados, a que teve acesso esta coluna, trazem mais boas do que más notícias para o governo e mais más do que boas notícias para o emprego.
A amostragem está bem distribuída: 41% são do setor industrial; 22%, do setor serviços; 17%, do setor financeiro; 13%, do setor comercial, e 7%, de outros. Do total, 49% são de empresas com mais de 500 empregados; 28%, de 100 a 499, e 23%, até 99.
A melhor notícia para o governo é o grau de confiança dos empresários na manutenção da política cambial e na consolidação do Plano Real, apesar de toda a confusão recente. Para 78% dos consultados, o Real deve se consolidar, e para 18%, já está consolidado. Numa pesquisa semelhante feita pela Internews em junho, 82% achavam que o Real iria se consolidar, e 12%, que já estava consolidado.
Os resultados não são rigorosamente comparáveis, já que não se tratam de pesquisas feitas com critérios científicos de amostragem. Ainda assim, pode-se dizer que a confiança no Plano Real, no mínimo, não mudou muito, apesar da crise.
Em relação à política cambial, os consultados descartam uma maxidesvalorização: só 2% prevêem uma correção "expressiva e abrupta". Eles apostam, contudo, numa aceleração do reajuste cambial: 57% acham que o câmbio em 98 vai superar "ligeiramente" a inflação, e 34%, que vai superar "sensivelmente". Em junho, 46% supunham que o câmbio ficaria abaixo da inflação; hoje, só 7% fazem essa aposta.
Os empresários não têm dúvidas, contudo, de que 98 será um ano duro. A maioria absoluta (63%) aposta num crescimento do PIB entre zero e 2%, e outros 31%, entre 2% e 4%. Para 65%, os negócios ainda estão em expansão, e para 28%, estabilizados. Para o próximo ano, a proporção dos que esperam uma expansão cai para 43%, enquanto 24% acham que ficarão estagnados, e 28% esperam uma retração moderada.
A metade dos consultados não prevê contratações em 98, e outros 26% vão demitir. Apenas 11% imaginam que vão contratar mais em 98, o que reforça a expectativa de que o emprego será duramente atingido no próximo ano, e não apenas no setor industrial, já que 59% dos consultados são de outros setores.
Os empresários estão razoavelmente confiantes de que o aumento dos juros será rápido. Perguntados por quanto tempo os juros mensais ficarão acima de 2,5%, a maioria (53%) respondeu no primeiro trimestre de 98, mas um número surpreendente (17%) respondeu dezembro deste ano. É bom dizer, contudo, que outros 19% acham que os 2,5% ao mês persistirão até o final do primeiro semestre de 98.
O cenário é duro, mas os empresários esperam algumas contrapartidas positivas em indicadores macroeconômicos. Nada menos que 60% projetam uma inflação entre 3% e 5% para 98, enquanto 26% apostam entre 5% e 7%. O que é coerente com a baixa expectativa de que o governo vá fazer uma máxi, de forma voluntária ou não.
Para 51%, o arrocho permitirá que o déficit em conta corrente fique entre US$ 20 bilhões e US$ 30 bilhões, enquanto 23% apostam entre US$ 30 bilhões e US$ 35 bilhões. Só 10% acham que ficará entre US$ 35 bilhões e US$ 40 bilhões, e 5%, que ficará acima disso.
Finalmente, também não há muito pessimismo em relação às reservas: 44% apostam que fecharão 98 entre US$ 40 bilhões e US$ 50 bilhões, e 35%, entre US$ 50 bilhões e US$ 60 bilhões. Apenas 11% acham que as reservas cairão para a faixa crítica entre US$ 20 bilhões e US$ 40 bilhões, e 9% acham que subirão acima de US$ 60 bilhões.
O cenário geral, portanto, é que o Brasil vai crescer muito pouco, o emprego vai cair, mas o câmbio será preservado, a inflação vai cair para níveis de Primeiro Mundo, e as reservas e o déficit externo ficarão em níveis suportáveis. Quer dizer, a maioria continua apostando na aposta de Brasília.

E-mail: CelPinto@uol.com.br

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