São Paulo, domingo, 7 de dezembro de 1997
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Acupuntura avança no cenário médico

Técnica é adotada em escolas e spas

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Os doutores da meditação, de gestos cuidados e olhar contemplativo, estão chegando com suas agulhas. Ou melhor, estão avançando cada vez mais rapidamente no cenário médico do país.
A acupuntura, técnica ainda olhada com desconfiança pela academia, já virou especialidade médica reconhecida dois anos atrás e entra agora para o currículo das faculdades de medicina.
Seus defensores acham que a caminhada daqui para a frente será ainda mais acelerada. O terceiro milênio -acreditam- será o da medicina tradicional chinesa.
Os sinais desse avanço já são visíveis do lado de fora dos consultórios: a fila por uma sessão de agulhas nos poucos serviços públicos pode demorar até 14 meses. Nos consultórios privados, a consulta oscila entre R$ 150,00 e R$ 200,00.
A 200 metros do espigão da Paulista, uma clientela de executivos e profissionais liberais circula entre sessões de agulhas, chás, ginástica e meditação. Seria a primeira clínica-spa-zen da cidade.
Há sinais do avanço chinês por todos os lados. Neste fim de semana, um grupo da Academia de Ciências Médicas da China está em São Paulo participando da 1ª Conferência Internacional Brasil-China de Medicina Tradicional Chinesa. O objetivo do encontro é aprender com os chineses, "bebendo direto na fonte", diz o médico Norvan Martino Leite, chefe da Unidade de Acupuntura do Hospital do Servidor Público Municipal.
Foi na China, há mais de 4.000 anos, que se iniciou a prática da acupuntura. O uso das agulhas, na verdade, é apenas uma técnica dentro de uma filosofia de vida que inclui práticas como a fitoterapia, o tai-chi-chuan, e a meditação.
No mês passado, o Instituto Nacional de Saúde dos EUA -o NIH- admitiu que a terapia das agulhas é capaz de liberar substâncias que aliviam a dor e proporcionam bem-estar.
Aqui surgem divergências entre os próprios acupunturistas. Tradicionalistas como o médico Jou Eel Jia afirmam que a acupuntura promove um equilíbrio energético capaz de interromper o processo de adoecimento. "As pessoas devem ser tratadas como um todo", diz.
O médico Hong Jin Pai, que coordena as unidades de acupuntura do Hospital das Clínicas e que foi aprender com os chineses em 1982, diz que as agulhas podem aliviar a dor e fortalecer o organismo.
"Mas afirmar que podem prevenir doenças é muito arriscado", diz. "Há muita gente que não conhece a acupuntura e que exagera nas promessas." Hong Pai é vice presidente da Sociedade Médica Brasileira de Acupuntura.
"Embora tenha limitações, a acupuntura pode tratar muitas patologias", diz Wilson Tadeu Ferreira, presidente do congresso Brasil-China, que termina hoje.
Para o médico Ysao Yamamura, da Universidade Federal de São Paulo, vem aumentando o número de serviços médicos que adotaram a acupuntura.

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