São Paulo, domingo, 7 de dezembro de 1997
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Serviço público tem espera de 14 meses

Há fila até para cursos para profissionais

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

A surpreendente aceitação da acupuntura pode ser quantificada pelo tamanho das filas de espera nos serviços públicos de saúde. No Hospital do Servidor Público Municipal (HSPM), onde são atendidos cerca de mil pacientes por mês, a espera por uma sessão de agulhas passa dos 14 meses.
"Só atendemos pacientes encaminhados por outros especialistas", diz a médica Eliana Bertini Ruas, da acupuntura do HSPM. "Não fosse assim, a fila seria muito maior."
Wilson Tadeu Ferreira, também do Servidor Público Municipal, diz que a equipe da medicina tradicional chinesa é "adorada" pelos pacientes. "São pessoas que não sabiam mais como aliviar a dor."
O médico Hong Jin Pai iniciou cinco anos atrás um serviço de acupuntura na liga de cefaléia do departamento de neurologia do Hospital das Clínicas. Hoje dirige os serviços de outras cinco unidades de acupuntura do HC onde são atendidos pacientes selecionados.
Ele também é responsável por um serviço de acupuntura na Faculdade de Saúde Pública, onde trabalham cinco médicos. Lá, a fila de espera é de quatro meses. "E a procura é cada vez maior", diz.
O interesse acontece também por parte dos profissionais. O próprio Hong Pai mantém um curso para médicos onde também há fila de espera. O curso de 15 semanas coordenado por Ysao Yamamura, da Unifesp, está formando 300 médicos. E o curso oferecido pelo Servidor Público Municipal forma turmas de 80 médicos.
Abrir as portas
Um dos projetos do médico Jou Eel Jia é aproveitar o tempo ocioso dos ambulatórios públicos para atender um maior número de pacientes. A acupuntura exige que o paciente permaneça deitado por cerca de 30 minutos, o que acaba exigindo um número de salas que poucos serviços têm.
A idéia, diz Wilson Ferreira, é utilizar os equipamentos da rede de saúde que fecham no final da tarde. No Servidor Público Municipal, por exemplo, a equipe de acupuntura começa a atender a partir das 16h, quando fecha o ambulatório de cardiologia.
"Um médico pode fazer aplicações em quatro pacientes por vez, o que permite que atenda 16 pessoas em quatro horas."
Os acupunturistas também querem que o SUS aumente o número de consultas e credencie mais serviços. Paciente e governo só teriam a ganhar, dizem os médicos, pois a acupuntura é das terapias mais baratas. Hong Pai, do HC, lembra que os mais beneficiados nos seus serviços são os pacientes crônicos, que necessitam de muito medicamento.
Segundo ele, 40% dos atendidos deixam de tomar remédios. Os outros reduzem o consumo de drogas para um terço ou metade.
Nos serviços públicos que oferecem a acupuntura, no entanto, a medicina chinesa ainda está longe de ser adotada na sua totalidade.
Em geral, não há farmácias fitoterápicas. E os pacientes são informados da importância dos exercícios físicos, da meditação e da dietoterapia, mas não há profissionais para ensiná-los e treiná-los.

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