São Paulo, domingo, 7 de dezembro de 1997
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'O PT tem dificuldade na relação com seus governos'

DA REPORTAGEM LOCAL

Luiza Erundina, que este ano deixou o PT e ingressou no PSB, diz que o antigo partido "criou grandes dificuldades" em sua administração na Prefeitura de São Paulo (89-92). "O PT, às vezes, tem muita dificuldade de lidar com um processo mais aberto", diz. Leia abaixo o trecho da entrevista em que a ex-prefeita trata de política partidária e de seu futuro.
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Folha - Sua administração em São Paulo foi marcada por sucessivas greves. O PT estimulou isso pelo seu diretório municipal. O partido prejudicou sua administração?
Luiza Erundina - Criou grandes dificuldades. Mas não foi uma situação só aqui em São Paulo. O PT sempre tem muita dificuldade na relação com os seus governos.
Folha - Essas dificuldades contribuíram para a sua saída do PT?
Erundina - A minha relação com o PT começou a se deteriorar nas prévias de 1988 e durante o governo. Mas piorou basicamente nas últimas campanhas eleitorais, particularmente na última campanha. Sempre foi uma relação muito problemática, tensa, difícil.
Além disso, eu faço uma avaliação que o país necessita de outro tipo de política, mais ampla, mais flexível. E o PT, às vezes, tem muita dificuldade de lidar com um processo mais aberto.
Folha - Uma vez a senhora disse que, se um dia todo mundo abandonasse o PT e só sobrassem duas pessoas, essas pessoas seriam a senhora e o Lula. Isso não aconteceu e a senhora deixou o PT.
Erundina - Não fui eu quem disse isso. Repeti uma frase do Lula em um momento de dificuldade do partido. Em um dado momento, o PT estreitou a possibilidade de eu participar do processo político não só em São Paulo como no país. Mas é um grande partido. Eu tenho muitos amigos lá.
Folha - É um grande partido, mas a senhora não quer saber de aliança com esse partido.
Erundina - Não é isso. É que eu penso que, para derrotar Fernando Henrique Cardoso, que é o objetivo principal, você tem que somar com forças capazes de retirar votos de FHC.
Folha - O PT não retira votos?
Erundina - O PT sozinho, não. Qualquer partido que saia com um candidato sozinho, de esquerda, não se viabiliza. O que eu avalio é que precisamos de uma candidatura de centro-esquerda mais ampla, capaz de transitar por outros segmentos da sociedade onde as esquerdas não transitam.
Folha - Quem são esses nomes?
Erundina - Tem vários. O Ciro Gomes é um. O Itamar Franco, se o PMDB sair com candidato próprio. Temos o Sepúlveda Pertence, o Roberto Requião. É a melhor possibilidade para viabilizar uma candidatura para o segundo turno. E, no segundo turno, essas forças se juntam para tentar derrotar o Fernando Henrique.
Folha - Qual o cenário para a senhora em 98? Deputada, vice-presidente ou governadora de São Paulo?
Erundina - Isso está subordinado ao que pode acontecer em nível nacional. É cedo para definir isso. Mas candidata a vice, não.

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