São Paulo, domingo, 7 de dezembro de 1997
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Projeto desgastado

ÁLVARO ANTÔNIO ZINI JR.

A instabilidade financeira das últimas semanas e o pacote fiscal têm levado à avaliação de que o rumo dado pelo governo para a economia deixa a desejar. Na realidade, falta um projeto mais bem definido que permita à economia retomar o crescimento sustentado.
Dos vários elementos que levam a essa percepção, o nível elevado da taxa de juros é o que mais depõe contra a estratégia oficial. Os agentes econômicos verificam que com taxas de juros reais tão altas não há crescimento, nem recuperação do nível de emprego. E, ainda mais, dada a dependência dos financiamentos externos e a dívida pública, não há perspectivas de reduções significativas nos juros reais.
As nações, assim como os indivíduos, conseguem avançar com mais rapidez quando têm metas claras quanto ao que desejam atingir e com que estratégia. É a falta dessa estratégia que hoje trabalha contra o governo.
Segundo o discurso oficial, as principais metas para a economia seriam consolidar a estabilização, reorganizar o Estado e as finanças públicas e reformar setores estratégicos como a Previdência, a educação e a saúde pública. Nesse nível de generalidade, poucos discordam que esses enunciados são desejáveis.
No entanto, pouca coisa mudou de fato no trato das finanças públicas e, nos setores sociais, a ação está muito aquém do desejado. Em alguns casos, os problemas até se agravaram, como no caso das contas externas.
O governo apostou alto que os financiamentos internacionais continuariam abundantes por muito tempo e voltou a aumentar o endividamento externo sem maiores cuidados.
Agora não só temos os problemas internos que já existiam, como novamente voltamos a ter um problema de ajuste externo para resolver. Esse nó nas contas externas, por outro lado, não era difícil de prever, sendo de responsabilidade dos que adotaram políticas que aumentaram nossa vulnerabilidade.
A globalização, por sua vez, tem sido usada quase como uma desculpa para não se formular um projeto de desenvolvimento mais elaborado. Mas essa ausência de formulação está se revelando insatisfatória.
Enfim, o que se pode observar é uma falta de entusiasmo com relação ao projeto oficial. Não que todas as políticas sejam equivocadas, mas o fato é que não há a sensação de que os problemas serão superados com a estratégia atual.

Álvaro A. Zini Jr., 44, é professor titular da Faculdade de Economia e Administração da USP.

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