São Paulo, domingo, 7 de dezembro de 1997
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Globalização é o novo alvo de Aldo Rico

LÉO GERCHMANN
DE BUENOS AIRES

O tenente-coronel Aldo Rico, 53, deixou o Exército argentino, tirou a farda e adotou os ternos bem alinhados. Não perdeu, porém, a língua afiada que o tornou conhecido quando liderou uma revolta militar em meio ao governo Raúl Alfonsín (o primeiro governo eleito depois do regime militar que dominou o país de 1976 a 1983).
Nesta entrevista exclusiva à Folha, Rico, hoje prefeito eleito de San Miguel (na Província de Buenos Aires), se diz um "americanista" (ou seja, pratica a defesa dos valores do continente) para melhor definir as suas opiniões nacionalistas.
Opina sobre os atentados terroristas ocorridos em Buenos Aires nos últimos anos, definindo-os como uma represália à participação argentina na Guerra do Golfo, defende um sistema de inteligência único no Mercosul, fala que pretende aderir ao peronismo, se diz perseguido "por ter lutado contra a subversão" e se mostra saudoso de Golberi do Couto e Silva, um dos líderes do regime militar brasileiro. Leia nesta página os principais trechos da entrevista de Aldo Rico:
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Folha - Como o senhor vê a situação das instituições argentinas hoje?
Aldo Rico - Eu vejo que tem de mudar tudo. Mantenho uma posição crítica ao modelo que está sendo adotado em toda a América Latina. Só o Chile escapa. O modelo é de transferência, com mecanismo convertível. Em vez de ficar no país, o dinheiro vai para o exterior. A convertibilidade (o modelo econômico argentino, de paridade entre o peso e o dólar) é um erro.
Folha - O senhor é nacionalista...
Rico - Mais do que isso. Sou um americanista. Temos que recuperar o que fez Perón, o que fez Getúlio Vargas. Devemos nos proteger. O Mercosul tem de ser aperfeiçoado. A defesa brasileira diz que não se pode ver Brasil e Argentina de forma diferente, e isso é verdade. Tanto Brasil quanto Argentina têm que ter acumulação de riquezas, e não transferência. Temos que defender o nosso meio ambiente. Temos que ter um sistema de segurança latino-americano. É a única forma de os nossos Estados se defenderem das grandes corporações. Temos que nos regionalizar para nos defendermos da globalização.

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