São Paulo, domingo, 7 de dezembro de 1997
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'Ex-terroristas não me perdoam'

LÉO GERCHMANN
DE BUENOS AIRES

Folha - Há acusações de que o senhor e o seu partido (o Modin) participaram dos atentados à Amia (Associação Mutual Israelita Argentina) e à Embaixada de Israel. O que o senhor acha disso?
Rico - O grande erro da Argentina foi ter entrado na Guerra do Golfo (que envolveu Estados Unidos e Iraque). Foi um erro grave de estratégia. Isso que ocorreu na Amia e na embaixada foi uma vingança, foi uma represália. Nunca deveríamos ter nos metido nisso. As comunidades árabe e judia, que são grandes tanto no Brasil quanto na Argentina, sempre se deram bem, nunca tiveram problemas. Agora isso ocorre. Estou certo de que se trata de uma represália.
Folha - Então o senhor acha que os responsáveis pelos atentados são iraquianos?
Rico - Só acho que foi uma vingança, e que os responsáveis são integrantes de uma agência estrangeira.
Folha - A que o senhor atribui as suspeitas que existem sobre o seu partido?
Rico - São denúncias criadas pela imprensa e uma pressão existente por parte da Embaixada de Israel para que se chegue logo aos culpados e se rompam as relações diplomáticas com o Irã. A Aliança (Aliança UCR-Frepaso, de oposição) não me perdoa por diversos fatores. Porque eu enfrentei o Alfonsín na Semana Santa de 87, porque eu rompi com a estratégia para derrubar a reeleição de Duhalde (o governador de Buenos Aires, Eduardo Duhalde, do PJ) em Buenos Aires ao propor um plebiscito que a aprovou e porque eu lutei contra a subversão nos anos 70. A mulher do deputado Chacho Alvarez (Frepaso) era uma terrorista. Na Aliança existem ex-terroristas que não me perdoam por muitas coisas.
Folha - Então tudo não passa de uma invenção?
Rico - Tudo é uma grande fábula. Faz dois anos que as pessoas dizem a mesmas coisas e não encontram nada. O próprio juiz já está seguindo outra direção de raciocínio na sua investigação. O que querem é atingir a mim e a Duhalde (há suspeitas de participação de integrantes do Modin e da polícia de Buenos Aires nos atentados). Tanto eu quanto o Morello (Emilio Morello, deputado do Modin e suspeito direto de ter participado do atentado) combatemos o terrorismo, e agora existem essas suspeitas. Chega a ser irônico. As pessoas não podem nos acusar de nada em termos de terrorismo. Na verdade, querem evitar que passemos para o PJ (Partido Justicialista ou Peronista, de situação).
Folha - O senhor pretende entrar no PJ?
Rico - Existe essa possibilidade, que está sendo estudada. Todo o Modin passaria para o PJ.
Folha - O senhor acha que existem neonazistas envolvidos nos atentados?
Rico - Não existe isso aqui na Argentina.
Folha - O que o senhor acha de ser definido como direitista?
Rico - Esquerda e direita não existem. Se ser de direita é defender a família, a moral, a pátria, a unidade da América, eu sou de direita. Mas essa é uma definição anacrônica. Sou americanista, defendo a permanência do dinheiro da América na América. Defendo a nossa ecologia. Essa definição é própria de quem não tem pensamento estratégico. Esse pessoal da Aliança não pensa. Dizem que o cara é de direita e é anti-semita, mas então quem é de direita em Israel ou em algum país árabe é anti-semita? Nossos políticos não pensam mais. No Brasil, está ocorrendo o mesmo, não há mais pensamento estratégico. Grandes pensadores como o Golberi não existem mais.

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