São Paulo, domingo, 7 de dezembro de 1997
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Pesquisa ataca as revistas femininas

Le Monde
de Paris

PATRICE DE BEER
DO "LE MONDE"

Sociólogos, jornalistas e universitários britânicos estudaram a imagem que a imprensa especializada passa da mulher. E a pesquisa está causando uma batalha na imprensa do Reino Unido.
Quem é, afinal, a mulher típica das revistas femininas, objeto do levantamento do grupo de reflexão de tendência conservadora Social Affairs Unity?
A imprensa séria britânica dedicou páginas inteiras para discutir o assunto. E ficou dividida em suas opiniões: se o diário "The Guardian" (de centro-esquerda) e o dominical "The Sunday Telegraph" (de direita) concordam sobre a superficialidade das versões inglesas de "Elle", "Marie Claire" e "Cosmopolitan", os diários "The Times" (de direita) e "The Independent" (de centro) se agarram ao conservadorismo mesquinho dos pesquisadores.
"As revistas jamais mencionam os filhos", escreve um dos autores do estudo, no "Sunday Telegraph", dizendo que as publicações femininas apresentam um retrato irreconhecível da mulher moderna.
"Só se fala de sexo, mas nunca de crianças, nem de casamento ou de relações duráveis. Não há noção de responsabilidade, nenhum reconhecimento de que o sucesso de um casal supõe momentos de altruísmo e fases difíceis. Mesmo sendo difícil de acreditar que esta geração de mulheres tenha crescido sem nenhum desejo de ter filhos, é possível que os atrativos de uma vida sem responsabilidades, sozinha num apartamento, cheia de dinheiro e sem ser importunada por crianças ou pelo marido a tenham finalmente levado ao instinto maternal."
"Louca por sexo, estúpida e egoísta", este foi o título do suplemento de mídia do "Guardian". "A mulher hoje debocha de tudo. Raramente pensa em outra coisa que não seja melhorar a sua própria vida sexual. Ela não tem valores, a não ser para a moda. E não quer se esforçar, a não ser na academia de ginástica."
O estudo divulga uma lista das principais características da mulher de revista: não tem filhos, suas relações se baseiam em sexo, a vida serve apenas para sentir prazer, vive num mundo sem valores, trata as tragédias como um espetáculo, acha a realidade muito incômoda.
Mas algumas publicações, como ``Bella" ou ``Prima", adotam ainda os valores tradicionais. "Observando os resultados da pesquisa, fica difícil de apontar quais revistas traçam o retrato mais deprimente da mulher britânica moderna. Parece que a `Company' foi a vencedora, se é que podemos chamar isso de uma vitória", conclui o ``Guardian".
"Apenas sexo, roupas e namorados?", pergunta o título do ``Times", que reproduz a capa da revista ``Trivial", com suas 'manchetes do tipo: "Você reconheceria as partes íntimas de seu amante?".
A palavra final fica com um jornalista do Times. "O equívoco da pesquisa talvez foi levar muito a sério as revistas femininas. Eles as leram de forma literal, e não a tomaram pelo que são realmente: uma forma de distração inofensiva, que ajuda mulheres a esquecerem as dificuldades do dia-a-dia."

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