São Paulo, domingo, 7 de dezembro de 1997
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Desinformação quase levou Israel à guerra

ZEEV SCHIFF e YOSSI MELMAN

ZEEV SCHIFF; YOSSI MELMAN
DO "HAARETZ"

Informações falsas sobre Síria são investigadas

Israel e Síria quase foram à guerra por causa de informações falsas recebidas pela inteligência israelense.
O episódio, e o colapso das conversações de paz Israel-Síria, estão agora sendo examinados por um comitê israelense de alto nível, que investigará o fornecimento das falsas informações sobre a Síria.
O perigo de guerra apareceu no final do verão de 1996 (final do inverno de 1996 no Brasil), quando tropas sírias foram observadas realizando movimentos incomuns, saindo de Beirute (capital do Líbano) e indo em direção às colinas do Golã (território sírio tomado por Israel na guerra de 1967 e depois anexado).
A inteligência israelense recebeu relatórios de uma fonte, havia muito tempo considerada confiável, dizendo que os sírios estavam prestes a lançar um ataque relâmpago contra o Golã. A intenção do suposto ataque seria reconquistar parte do Golã e usá-la como trunfo na eventual retomada das negociações com Israel.
Desentendimento
Durante uma visita a Washington, em setembro de 1996, o premiê israelense, Binyamin Netanyahu, disse ao presidente norte-americano, Bill Clinton, que havia "um perigo de desentendimento ou de uma interpretação errada das medidas tomadas pelo outro lado".
Os norte-americanos estavam céticos em relação às informações de Israel -suas próprias fontes relatavam que não havia sinal de uma agressão síria iminente.
Estavam inclinados a ver o assunto como um exagero, ou talvez uma tentativa deliberada de bloquear o processo de paz.
Contudo, com o aumento das tensões, os EUA pediram uma explicação à Síria.
A resposta da Síria, também transmitida pelo Egito e pela França, foi que sua movimentação de tropas no Líbano tinha caráter puramente defensivo, uma reação a declarações ameaçadoras de Israel.
Os israelenses pediram ao Egito que passassem aos sírios a mensagem de que não tinham a intenção de atacar. Enquanto isso, a inteligência militar israelense observou que o Exército sírio não havia assumido uma posição ofensiva.
Baseado nisso, o chefe das Forças Armadas israelenses, Amnon Lipkin-Shahak decidiu não mobilizar os reservistas ou concentrar tropas na fronteira -ações que poderiam provocar os sírios. A crise acabou passando.
Lista de questões
O comitê de investigação irá considerar uma lista de questões. Deve descobrir por quantos anos a inteligência israelense confiou na fonte falsa; se alguma reserva foi expressa em relação à veracidade da fonte e, se isso ocorreu, como foi tratada; quais os motivos para o fornecimento dessas informações; se as informações falsas proporcionaram a promoção de membros dos serviços de informação; se as informações foram passadas a membros do governo que professam ideologias de extrema direita; e se as informações influenciaram grandes decisões políticas sobre a Síria, como a decisão do ex-premiê Yitzhak Rabin (assassinado em 1995) de ceder o Golã em troca de um acordo de paz abrangente.
Na primeira confirmação oficial de que Israel estava recebendo falsas informações, o chanceler David Levy admitiu na semana passada que uma investigação estava em andamento, mas ressaltou que o assunto deveria ser visto dentro do contexto apropriado.
"Em todo sistema multifacetado há coisas que merecem exame", disse Levy. "Se você confia numa fonte única, sem integrá-la às outras, está propenso a se tornar prisioneiro de toda pequena informação que recebe."

©World Media/"Haaretz"

O "Haaretz" é um dos principais jornais diários de Israel, com tiragem de 65 mil exemplares. Possui uma edição diária em inglês, disponível na Internet (http://www.haaretz.co.il/eng)

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