São Paulo, domingo, 7 de dezembro de 1997
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FHC em Londres: missão cumprida

RUBENS ANTONIO BARBOSA

A visita que o presidente Fernando Henrique Cardoso acaba de fazer ao Reino Unido cumpriu plenamente os seus objetivos. Não é uma afirmação "diplomática", muito menos a avaliação interessada do embaixador em Londres. Trata-se da opinião que se pode recolher -e que os próprios jornalistas brasileiros confirmaram- junto às instituições e pessoas que neste país mantiveram contato com o presidente.
Ao longo de três dias e meio de trabalho intensíssimo, a visita cobriu variados aspectos das relações entre os dois países. Neste artigo, irei concentrar-me na dimensão econômico-financeira.
Embora a data da visita já estivesse marcada há muito tempo, as turbulências originadas nos mercados da Ásia criaram um novo contexto. O Brasil sentiu os efeitos da crise, e o governo tomou medidas fortes para reforçar a nossa credibilidade perante os agentes econômicos internacionais.
Ao vir pessoalmente a um dos três grandes centros financeiros globais, o presidente pôde verificar não apenas o apoio de investidores e empresários aos impressionantes progressos que já fizemos sob a égide das conquistas do Real, mas também a reação favorável gerada pelas decisões fiscais e monetárias anunciadas em novembro, algumas já aprovadas pelo Congresso.
No seminário promovido pela Confederação da Indústria Britânica -significativamente, o primeiro evento da visita-, o presidente deixou clara a prioridade inarredável à permanência dos rumos da política econômica.
O prolongado aplauso ao final da exposição do presidente -que diversos veículos de comunicação brasileiros registraram- foi uma demonstração claríssima (e rara, em se tratando de platéias da "City" londrina) de que o mundo empresarial e financeiro continua a confiar na economia do Brasil.
Foi também um reconhecimento pela firmeza revelada nas recentes medidas. As apresentações feitas no mesmo seminário pelos presidentes do Banco Central e do BNDES foram objeto de referências positivas por parte dos executivos convidados e da imprensa.
Na manhã seguinte, o presidente recebeu no Palácio de Buckingham, onde se hospedou, 22 altos dirigentes de bancos e instituições financeiras. Falou do momento da economia brasileira e internacional e reiterou o propósito de seguir em frente, sem nenhum desvio ou retrocesso. Ouviu comentários os mais favoráveis -de interlocutores não propriamente dados a "exuberâncias irracionais"- até mesmo do governador do Banco da Inglaterra (equivalente ao nosso Banco Central).
Foi uma reunião fechada, conduzida com franqueza e transparência, da qual os banqueiros saíram convencidos -e muitos o disseram a quem quisesse ouvir- de que o compromisso do presidente com a estabilidade e as reformas está acima de quaisquer considerações político-eleitorais e não será posto em questão por um cenário internacional possivelmente menos positivo.
Dos dirigentes de várias empresas interessadas em realizar investimentos diretos no Brasil o presidente recolheu, em audiências individuais, novos gestos concretos de confiança.
Vale a pena assinalar que os projetos de investimento de companhias da área produtiva não parecem haver sofrido maiores abalos em função da volatilidade das Bolsas. Nosso programa de privatização, a flexibilização do monopólio do petróleo, as necessárias obras de infra-estrutura e o simples potencial do Brasil continuam a mobilizar a atenção de firmas de todo o mundo.
Na noite de quarta, no grandioso cenário medieval do Guildhall, o presidente foi homenageado pelo "Lord Mayor" e pela Corporação (autoridade dirigente) da "City" de Londres com um banquete para 700 convidados, em sua maioria executivos de bancos e grandes empresas. Fez um discurso forte e claro sobre o sentido do mandato que recebeu da sociedade brasileira -do qual um dos pilares é a consolidação das conquistas do Real. A receptividade foi a melhor possível.
Foi importante o reconhecimento, explicitado pela rainha Elizabeth 2º em seu discurso em Buckingham, de que o Brasil é hoje uma das economias mais dinâmicas e interessantes em todo o mundo. Refletindo essa percepção, empresários e governo britânicos incluíram o Brasil numa lista reduzida de dez parceiros preferenciais e estratégicos.
O presidente reiterou sua preocupação com a instabilidade do sistema financeiro internacional, a volatilidade dos fluxos de capitais e as consequências negativas para as principais economias dos países em desenvolvimento, os "mercados emergentes".
Aproveitou também para reivindicar maior participação de países como o Brasil, uma das dez principais economias do mundo, nos processos decisórios hoje restritos a foros integrados unicamente por países desenvolvidos.
Em síntese, além dos outros múltiplos aspectos -dentre os quais sobressai o início de uma nova era nas relações bilaterais, para a qual irá contribuir a afinidade entre o presidente e o primeiro-ministro Tony Blair-, a visita de Estado serviu para fazer avançar o processo de retorno à normalidade que o Brasil empreende desde o instante em que nos chegaram as primeiras reverberações dos acontecimentos na Ásia.
Serviu principalmente para mostrar que o Brasil começa a diferenciar-se dos demais mercados emergentes e reforça ainda mais suas credenciais para continuar a atrair, e mesmo aumentar, investimentos diretos do exterior.

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