São Paulo, domingo, 7 de dezembro de 1997
Texto Anterior | Índice

Novo código traz inspeção veicular em 98

HENRIQUE SKUJIS
DA REPORTAGEM LOCAL

Para licenciar o carro hoje, o motorista precisa apenas pagar o IPVA (Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores) e "zerar" as multas. As autoridades não levam em consideração as condições de segurança do carro nem os níveis de emissão de gases e de ruídos.
Com o novo Código Brasileiro de Trânsito, que entra em vigor em 22 de janeiro, o processo vai mudar.
"O licenciamento anual não será mais apenas dos documentos, mas do carro", explica Roberto Scaringella, diretor do Instituto Nacional de Segurança no Trânsito (INST), que participou da elaboração do sistema de inspeção veicular.
Para fazer a vistoria, não será necessário desmontar os componentes do carro, que serão enquadrados em quatro categorias: sem defeito, com defeito leve, com defeito grave e com defeito muito grave.
Provavelmente, numa primeira fase, serão reprovados só os carros que tiverem defeitos graves ou muito graves no sistema de freios. Com o tempo, as normas ficarão mais rígidas.
"Se as regras forem muito rigorosas logo no começo, quase toda a frota será reprovada", afirma Carlos Kutscka, diretor da Viva, que atualmente faz a inspeção de carros batidos para o Detran (Departamento Estadual de Trânsito) e que pode ser uma das empresas escolhidas na concorrência para fazer a inspeção veicular em 98.
Kutscka cita o caso do extintor de incêndio. A lei prevê que ele deve ser renovado anualmente. "Eu duvido que exista uma parcela grande que renove a carga", diz.
Após a inspeção, o carro poderá ser avaliado como aprovado (recebe um adesivo no vidro), parcialmente aprovado (exige uma inspeção de retorno após um prazo máximo de 30 dias), reprovado (exige retorno do veículo, que não pode rodar até a regularização) e rejeitado (veículo fica retido por não apresentar condições mínimas e representar risco à segurança).
Atraso na programação No primeiro ano de implantação, em 1998, apenas veículos oficiais, carros de locadoras, de auto-escolas, de transporte escolar, táxis, caminhões e ônibus deverão passar pela inspeção.
Os carros de passeio comuns com mais de dez anos entram nas regras no máximo a partir de 99. Em 2000, todos os veículos, a partir do segundo ano de uso, já serão inspecionados obrigatoriamente.
Mas todo o cronograma poderá ser adiado, pois apenas os Estados do Rio Grande do Sul e Paraná estão com um certo adiantamento na implantação do sistema. Bahia, Minas Gerais e Rio de Janeiro já iniciaram o processo. Em São Paulo e nos demais Estados, a licitação não foi nem sequer aberta.
Como faltam 46 dias para a adoção do novo código, é provável que muitos Estados atrasem a inspeção veicular. "Infelizmente, em alguns Estados, o código será descumprido, e a inspeção só deverá começar em 1999", diz Scaringella.
Preocupação
Inspeções voluntárias e gratuitas feitas pelo INST em São Paulo, Campinas (SP) e Porto Alegre (RS) mostram que o motorista, se não mudar seu comportamento, terá problemas para licenciar o carro.
Em São Paulo, em 1993, 91% dos carros estavam com faróis desregulados, 38% apresentaram problemas nos discos de freios, 61% mostraram amortecedores danificados e 25% possuíam pneus com desgaste acima do tolerado.
A pesquisa mostrou também que nem só os carros velhos seriam "barrados" na inspeção. Veja dois exemplos: 50,4% dos veículos com até três anos tinham deficiências na suspensão, e 15,6% tinham os quatro pneus em mau estado.
"O motorista precisa se conscientizar de que o carro sofre um desgaste", diz Luis Carlos Nespoli, consultor do INST e responsável pela implantação da inspeção veicular no Rio Grande do Sul.
Para Nespoli, "a tendência é o motorista passar a fazer manutenção periódica, evitando problemas no licenciamento. Assim, o estado da frota brasileira circulante melhorará sensivelmente".
Com essa melhora na frota, segundo o INST, o Brasil terá 200 mil acidentes a menos por ano e, consequentemente, 4.600 mortos a menos.

LEIA MAIS sobre a inspeção na pág. 6

Texto Anterior: Chevy 93 de produtora de moda foi reprovada em 11 itens
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.