São Paulo, segunda-feira, 8 de dezembro de 1997
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Cadeia é destruída por 28 h de rebelião

MARCELO GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL

A rebelião dos presos da Cadeia Pública 3 de São Paulo terminou ontem às 12h35. A revolta deixou um preso com morte cerebral após levar um tiro na cabeça. Outros cinco detentos tiveram ferimentos leves e um refém foi espancado.
O motim durou 28 horas e 35 minutos e acabou com a libertação dos últimos três reféns e com a transferência de mais 44 presos para o 36º DP -entre eles, oito que estavam jurados de morte pelos companheiros na cadeia pública.
Anteontem, 30 presos haviam sido transferidos para o 36º DP após a libertação de três reféns -um quarto refém, que foi espancado e teria sido violentado, já havia sido trocado antes por comida.
Segundo a polícia, os presos pediam transferência porque as fugas são mais fáceis em distritos policiais do que em cadeias públicas.
No acordo feito entre a polícia e os presos, ficou acertado que os 418 detentos que ficaram na cadeia serão transferidos em breve para presídios e para distritos policiais.
O prédio da cadeia será fechado e reformado porque foi destelhado e teve as redes hidráulica e elétrica quebradas. Além disso, os presos fizeram buracos na muralha.
O fim da rebelião foi negociado por uma comissão de oito presos liderados por Carlos Alberto Soares. Eles apresentaram uma lista de reivindicações ao juiz-corregedor Francisco José Galvão Bruno.
"Queremos transferência sem represálias e receber as visitas na terça-feira", disse Soares.
O juiz concordou. Pouco depois da libertação dos reféns, os presos voltaram às celas e entregaram os pedaços de canos e os estiletes que usavam na rebelião. Também deram aos policiais duas réplicas de pistolas e uma de revólver.
Hoje, outros 25 presos deverão ser transferidos para as penitenciárias de Mirandópolis e de Marília e para o Instituto Penal Agrícola de Bauru. Segundo o delegado Romeu Tuma Júnior, a rebelião foi motivada por uma fuga frustrada.
Por volta das 8h de anteontem, sete carcereiros entraram na cadeia para entregar o café da manhã. "Quando vi, os presos já haviam me rendido com estiletes", disse o carcereiro Wilson Costa, 54, que foi libertado ontem.
Em seguida, segundo o delegado, os presos tentaram fugir em um "cavalo doido" -manobra em que saem correndo pela porta da frente. A ação deu errado e eles começaram a quebrar a cadeia.
Houve tiros. Os policiais dispararam rajadas de metralhadora e balas de espingarda calibre 12 em direção aos buracos feitos na muralha pelos detentos. Mesmo após o término da rebelião, a cadeia permaneceu cercada pela polícia.

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