São Paulo, segunda-feira, 8 de dezembro de 1997
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Nova York tira a roupa

PATRICIA DECIA
DA REPORTAGEM LOCAL

Nova York sem qualquer traço de glamour. Pelo menos é assim, feia, gorda ou magra demais, deserotizada, flácida, peluda, que a cidade aparece, por meio dos retratos de seus cidadãos, em "Naked New York", do fotógrafo norte-americano Greg Friedler.
Resultado de um projeto que consumiu cerca de três anos, o livro reúne 75 pares de fotografias dos mais diversos tipos nova-iorquinos. Na primeira foto, eles aparecem com as roupas que saíram de casa pela manhã para o trabalho, a escola, a rua. Ao lado, estão nus, ou melhor, pelados.
Isso mesmo, pelados é o termo certo obedecendo aos objetivos de Friedler, exibidos no curto prefácio, único texto do livro.
Ele escreve: "Em fotografia, uma pessoa pelada representa a si mesma, enquanto um nu veste o traje invisível de um ideal ou de um objeto do desejo, que nos previne de entrar em contato com a pessoa real".
O resultado são imagens um tanto cruas, apresentando todas as disformidades e imperfeições dos corpos, não importa a idade, não importa a classe social, não importa a preferência sexual.
Além da visão dos corpos despidos, tudo o que "Naked New York" revela sobre essas pessoas reais são suas idades e profissões.
Há a motorista de caminhão (21 anos), a atriz pornô (26 anos), o padeiro (47 anos), o cobrador (27 anos), o vendedor aposentado (62 anos), a viciada (32 anos), o técnico em computadores (35 anos), o executivo (42 anos) e até o instrutor de caratê transexual (46 anos).
Em comum, há a disposição de cada um em participar do projeto sem nenhum dinheiro em troca, respondendo ao anúncio publicado pelo fotógrafo no "Village Voice", o mais tradicional jornal alternativo da cidade.
Tirando a roupa de seus modelos, Friedler mostra que a viciada pobre, o trabalhador negro e o executivo branco têm também outras similaridades.
Fotógrafo free-lance, 27 anos, nascido em Nova Orleans (sul dos Estados Unidos) e formado pela School of Visual Arts de Nova York, Friedler interpreta a resposta ao anúncio de jornal como um sinal de que os nova-iorquinos estão "famintos por atenção".
Eles se despiram para Friedler -que tirou de quatro a cinco fotos de cada- no canto de um loft emprestado por um amigo. Para o fotógrafo, receberam em troca, pelo menos por um momento, toda a sua atenção, transformando-se em seus amigos e confidentes.
Para quem observa, restam apenas poucas pistas para decifrar cada uma das identidades: os cortes de cabelo, a maquiagem, os piercings e tatuagens, os brincos, as pulseiras e os anéis.
Atualmente, o fotógrafo levou seu projeto para o outro lado do país, a costa oeste dos EUA, e prepara "Naked Los Angeles".
Internet
Algumas das fotos de "Naked New York" podem ser vistas na Internet. A SoHo Gallery traz pelos menos quatro delas (www.geocities.com/SoHo/Gallery/1377/).
A revista virtual "Nerve" (www.nervemag.com/Friedler/) também traz várias das imagens e deve publicar fotos similares, que estão sendo realizadas por Friedler exclusivamente para a publicação.

Livro: Naked New York
Lançamento: W.W.Norton
Autor: Greg Friedler
Onde encomendar: Amazon Books (www.amazon.com); livraria Cultura (tel: 011/285-4033)
Quanto: R$ 28,24 (livraria Cultura)

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