São Paulo, segunda-feira, 8 de dezembro de 1997
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Brasil se disfarça de Terceiro Mundo

MAURÍCIO TUFFANI
EDITOR-ASSISTENTE DE CIÊNCIA

Proteção do meio ambiente é coisa que tem limite. E esse limite, tanto para os países desenvolvidos como para alguns em desenvolvimento, é a restrição de suas atividades econômicas. Essa é a moral da história da conferência sobre mudanças climáticas que se realiza em Kyoto, no Japão.
O descaramento dos países ricos, que querem mais liberdade para poluir, é o mesmo de China, Índia, México, Brasil e outros em desenvolvimento, que têm grande parque industrial e outras fontes altamente poluidoras, mas não querem limites para suas emissões.
Cinco anos após a Eco-92, uma pedra foi posta sobre um dos princípios estabelecidos naquele encontro, com a Convenção do Clima: iniciar no ano 2000 o controle das emissões dos gases tidos como causa do aquecimento global.
O princípio de que todos os países têm "responsabilidades comuns, mas diferenciadas", na questão do aquecimento global estabelecia que todos eles, proporcionalmente à participação de cada um nas emissões de gases, deveriam adotar medidas de controle.
Em março de 1995, delegações dos países que ratificaram a convenção se reuniram em Berlim, na Alemanha, para detalhar metas dos objetivos fixados na Eco-92.
O encontro foi a primeira demonstração de que esse detalhamento era um vespeiro. Do Olimpo das considerações globais e futuristas, encenado na Eco-92, os países que ratificaram a convenção passaram para a várzea dos interesses domésticos e imediatistas.
Em outubro deste ano, na reunião realizada em Bonn, na Alemanha, as cartas foram postas na mesa, definindo as posições atuais.
Os países ricos querem o início do controle de suas emissões por volta de 2010. Os exportadores de petróleo não querem controle para seus fregueses. E os países em desenvolvimento mais poluidores, como o Brasil, comodamente se misturam àqueles mais pobres.
No caso específico do Brasil, a poluição industrial e de sua enorme frota de veículos se soma às emissões de dióxido de carbono pelas queimadas em florestas tropicais e em áreas agrícolas.
Não é por acaso que foi adiada para depois da conferência de Kyoto a divulgação dos dados sobre os desmatamentos na Amazônia no atual governo, prevista para os primeiros dias de dezembro.
No assunto devastação florestal, o Brasil esteve em posição mais confortável na Eco-92. O então presidente Fernando Collor teve os dados mais baixos de desmatamento da Amazônia. Ele pôde contar com o mais eficaz agente da preservação ambiental do país: o desaquecimento da economia.
Com o fim das amarras do Plano Collor, o Brasil teve mais desmatamentos, queimadas. E mais produção, carros e fumaça. Mas tenta ficar convenientemente disfarçado de Terceiro Mundo.

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