São Paulo, segunda-feira, 8 de dezembro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Reputação do Maxim's sofre a garfada final

JOHN LICHFIELD
DO "THE INDEPENDENT", EM PARIS

O restaurante Maxim's costumava ser o lugar para ser visto em Paris. Não é mais. Até o mais exclusivo clube gastronômico levou o lendário apetite de seu almoço anual para outro lugar. O estilista Pierre Cardin, dono do Maxim's, responde, educadamente, que não precisa dessas "barrigas gordas".
Já foi o tempo do Maxim's como ponta-de-lança da cozinha francesa. O restaurante não é nem citado no prestigioso guia "Michelin".
Mas o Maxim's sempre manteve certo charme, em parte por causa de sua esplêndida localização, logo ao lado da Place de la Concorde, em parte por causa das celebridades políticas e do mundo artístico, que adoravam serem vistas ali.
Uma batalha gastronômica foi deflagrada recentemente. De um lado, Pierre Cardin, que reclama por não receber o crédito que merece por ter recuperado um marco parisiense. Do outro, os críticos do restaurante, e muitos de seus ex-clientes, que protestam que Cardin permitiu que o tradicional lugar afundasse numa mediocridade caríssima.
Cardin, dizem os opositores, está mais interessado no Maxim's como marca, que ele pode vender como franquia mundo afora -ele está prestes a abrir um Maxim's de cem lugares em Xangai, na China.
O último golpe, e talvez o final, contra a reputação do Maxim's foi a decisão do Club des Cent (o Clube dos Cem), um exclusivo clube gastronômico parisiense, de levar a sua reunião anual para outro lugar. Desde que se tem memória, o encontro acontecia no Maxim's.
Entre os membros do Clube des Cent estão o ex-premiê Pierre Messmer, o ex-chanceler Jean Françoise-Poncet, o celebrado chefe de cozinha Paul Bocuse e, embaraçosamente, o próprio Cardin. Para entrar no clube, você precisa: a) ser famoso; b) ser recomendado por membros; c) passar por difícil teste gastronômico.
Você pode, por exemplo, de acordo com o jornal "Le Figaro", ter de responder a questões como: "Você deixa Paris de carro às 9h00 em direção a Bordeaux. Em qual restaurante com estrelas (do "Michelin") você pára para almoçar?"
Uma nova questão pode ser, "Qual o problema com o Maxim's?" O guia "Gault Millau" diz: "Os preços são tão antipáticos quanto o ambiente". Outros críticos dizem que a comida é ruim e sem inspiração e -o insulto definitivo- as flores são artificiais.
Diante de tudo isso, Cardin respondeu que estava no meio de uma reforma de milhões de dólares no restaurante. O Club des Cent, disse ele, em entrevista ao "Le Figaro", são "pessoas maravilhosas", mas "velhas".
"O Maxim's é amanhã, não ontem. Eu não quero apenas barrigas gordas em meu restaurante. As pessoas vêm aqui para encontrar um dos ambientes mais bonitos do mundo, não só para se encherem de comida", disse ele.
Questionado sobre o que fez ao Maxim's, Cardin confirmou as suspeitas de seus ferozes críticos. "Os antigos donos, os chamados profissionais, não fizeram nada com esse nome. Eu criei (com o nome Maxim's) cigarros, espetáculos, panelas, águas minerais, relógios, trufas, champanhe."

Texto Anterior: Brasil se disfarça de Terceiro Mundo
Próximo Texto: Combustível pode ter derrubado avião
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.