São Paulo, segunda-feira, 8 de dezembro de 1997
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Argentina centra investigação no Irã

LÉO GERCHMANN
DE BUENOS AIRES

A Justiça argentina não acredita mais que as investigações sobre os atentados contra a Amia (Associação Mutual Israelita Argentina) e a Embaixada de Israel tomem rumo diferente do atual. Por isso, decidiu concentrá-las, a partir de agora, na conexão internacional.
O raciocínio é de que, com essa estratégia, toda a complexidade dos crimes, incluindo a conexão local, poderá ser desvendada. Essa convicção se deve a dados novos surgidos na semana passada.
O advogado da Daia (Delegação de Associações Israelitas Argentinas), Rogelio Cichowolski, disse no sábado à Folha que já há uma convicção da Justiça quanto às duas conexões, envolvendo o grupo terrorista libanês Hizbollah, apoiado pelo Irã, e policiais argentinos, alguns deles suspeitos de anti-semitismo.
O importante agora, segundo ele, é desvendar em que ponto as duas conexões se ligam. "A partir disso, tudo ficará mais claro."
O fato de a investigação sobre a conexão internacional levar ao esclarecimento também da participação local levou a Daia a apoiar a nova estratégia.
O juiz Juan Galeano evita a imprensa desde que retornou de Los Angeles, onde recebeu documentos selados e carimbados supostamente revelando o apoio do Irã ao terror. Os documentos foram entregues pelo ex-diplomata iraniano Manoucher Moatamer, que está refugiado nos EUA. Peritos analisam a sua autenticidade.
O especialista americano em terrorismo Raphael Perl, que participou de seminário na Argentina, disse ser evidente a participação do Irã. Galeano tenta transformar as evidências em provas.
O depoimento de Roni Gorni, ex-chefe de segurança da embaixada, na última quarta-feira, ajudou a convencer Galeano a priorizar a conexão internacional. Foi a primeira vez que Gorni depôs. Segundo ele, um carro-bomba explodiu no lado externo do prédio. O carro teria invadido o espaço reservado ao carro do embaixador.
Galeano recebeu, também na semana passada, relato do depoimento de Beatriz Martinez, ex-empregada do ex-chefe de polícia Pedro Klodczyk. Segundo ela, o policial recebeu US$ 700 mil pouco antes do atentado contra a Amia. Testemunho idêntico havia sido prestado antes pelo ex-sócio de Klodczyk, Rubén Cirocco.
Martinez trabalhou para o ex-chefe de polícia de 77 a 95. Com o depoimento, o juiz quer provar a relação entre Klodczyk e o ex-comissário Juan Ribelli, atualmente preso. Ribelli recebeu US$ 2,5 milhões pouco antes do atentado.
Suspeita-se que o dinheiro serviu para preparar o carro-bomba. No atentado contra a embaixada, em 92, morreram 29 pessoas. Na Amia, em 94, morreram 86.

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