São Paulo, segunda-feira, 8 de dezembro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

A TV ABERTA NA SARJETA

Meninas de apenas quatro anos rebolando sobre garrafas como se fossem chacretes, mulheres nuas servindo de bandeja para o repasto de atores num restaurante japonês, deficientes físicos submetidos a situações humilhantes ou um hermafrodita que tem as fotos de sua genitália expostas diante das câmeras.
Essas apelações e vulgaridades passaram a integrar a programação das grandes emissoras da TV aberta no país, a ponto de se transformarem no principal eixo da chamada "guerra pela audiência".
Faz parte dessa escalada de degradação do nível da TV o fato de os programas estarem também funcionando como cassinos eletrônicos. Sorteios que deveriam beneficiar instituições filantrópicas são usados para estimular a prática do jogo e alimentar no espectador, por meio de uma propaganda tão ostensiva quanto enganosa, a ilusão do ganho fácil.
É sintoma dessa perda de parâmetros mínimos de civilidade o fato de que o apresentador Carlos Massa, conhecido como Ratinho, esteja sendo leiloado por pelo menos duas emissoras e que seu passe esteja hoje fixado em altíssimos valores. Ratinho é uma espécie de caricatura de um padrão baixo de programação que, ao que parece, vai se tornando hegemônico a cada dia.
Uma das explicações mais plausíveis para o fenômeno é a entrada das chamadas TVs por assinatura no país. Mais sofisticadas e voltadas a um mercado segmentado, elas teriam estimulado as grandes redes a apelar para formas popularescas, a fim de preservar a audiência.
Mas, seja qual for a razão, o fato é que se criou um mal-estar na sociedade diante das aberrações da TV. A pior resposta a isso seria a volta de qualquer forma de censura sobre a programação. O desafio está em encontrar maneiras democráticas de reagir a essa situação, buscando soluções que não coloquem em risco a liberdade de expressão, mas que contemplem os direitos básicos de cada família e de cada cidadão.

Texto Anterior: O AMBIENTE E OS PAÍSES RICOS
Próximo Texto: A 123, fábrica de liberdade
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.