São Paulo, segunda-feira, 8 de dezembro de 1997
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Cipião e as favas

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - A decantada cultura do presidente saiu arranhada, em Londres, quando se referiu a Cipião, o Africano, trocando-o por Cipriano. Aliás, a Folha corrigiu à sua maneira o erro de FHC, explicando aos leitores quem foi Cipião, personagem não mencionado pelo novo doutor "honoris causa".
Os dois Ciprianos que ficaram na história, separados por alguns séculos, nada têm a ver com o general que aproveitou a bobeira de Aníbal, acampado em Cápua para festejar antecipadamente a conquista de Roma.
Cipião armou uma esquadra e atacou Cartago, destruindo-a e dando razão a Catão, que há muito vivia dizendo aquilo que até hoje é repetido por aí: "Delenda Carthago!".
Esse Cipião é que passou à história como "o Africano", e foi a ele que FHC quis se referir. Não ao bispo Cipriano, santo e mártir, muito menos ao feiticeiro famoso de cujo livro volta e meia eu copio uma feitiçaria para publicá-la em forma de crônica. Uma de suas receitas mais complicadas é "A Grande Mágica das Favas" -acho até que já a publiquei neste mesmo espaço, a propósito de não sei mais qual embrulhada do governo.
Em linhas gerais, a visita de FHC atingiu o objetivo que é buscado também por certos artistas que vão ao exterior de olho no mercado interno. Ocupam a mídia e dão a impressão de que o mundo se curvou diante deles.
A corte inglesa tem suntuoso protocolo. Estava em Londres, nos anos 80, quando fui surpreendido por uma rua interditada. Parei o carro e esperei o evento que bloqueara a passagem.
Eis que surgiu um cortejo de Branca de Neve, antes de a abóbora virar abóbora outra vez. Numa carruagem que faria Joãosinho Trinta babar de inveja, o novo embaixador do Senegal dirigia-se ao palácio para apresentar suas credenciais à corte de St. James.
A mãe daquele cara, se o visse no instante de glória, choraria de emoção. Eu quase chorei de raiva: perdi um encontro no qual depositava alucinada esperança.

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