São Paulo, quarta-feira, 10 de dezembro de 1997 |
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FHC é fraco e injusto, diz Arthur Virgílio
ELIANE CANTANHÊDE
* Folha - O sr. está furioso com a estadualização do porto de Manaus? Arthur Virgílio Neto - Não sou marinheiro, estivador, exportador, bêbado nem prostituta. Não tenho nada a ver com porto. Folha - Então, por que o sr. anda tão furioso? Virgílio - O que eu discuto é uma nova relação do PSDB com o presidente, que tem sido fraco e injusto. Fraco com os falsos aliados que só querem tirar proveito. Injusto com os velhos aliados. Folha - Na semana passada, o sr. disse que era leal, mas não idiota. O sr. mantém o que disse? Virgílio - Mantenho. E disse não só em relação a mim, como ao partido. Está na hora de ficar bem claro que o PSDB tem um projeto de poder. Esse projeto só vai se realizar se o presidente perceber isso. Folha - O que o sr. quer dizer? Que FHC exclui o PSDB do poder? Virgílio - No segundo mandato, ele vai precisar daqueles aliados leais, que ficam com ele quando ele tiver 80% ou 8% de aprovação. Se não tiver esses aliados, o governo soçobrará. Ou cairá na mesmice, na mediocridade ou se extinguirá por falta de governabilidade. Folha - FHC, então, chegará fraco a um segundo mandato? Virgílio - Ele vive um momento crucial. Há uma crise internacional. Há crises internas. Acabo de ver uma pesquisa num Estado do Nordeste e fiquei surpreso. Ele está em torno de 30%. É muito pouco. Folha - Isso prejudica o PSDB? Virgílio - Nós sofremos o desgaste do apoio ao pacote fiscal e às reformas. Só não é possível que a gente sofra o desgaste e não tenha um tratamento à altura. Folha - O que está faltando? Virgílio - O que falta a FHC é dosar melhor as coisas. Ele é pragmático demais para o meu gosto. Folha - O sr. tem certeza de que não está assim porque os tucanos perderam o porto de Manaus para o Amazonino Mendes (PFL)? Virgílio - Para que Amazonino quer tanto aquilo? Não entendo. Folha - Ele disse à Folha que a estadualização faz parte de um programa nacional, que o ex-administrador Seraphim Meirelles nunca tinha visto um porto antes. Virgílio - É uma injustiça. Trata-se de um técnico de escol. Folha - E o substituto dele, Pedro Albuquerque? Virgílio - Não sei. Pergunte ao Tribunal de Contas da União e à Ciset (órgão de fiscalização). É só puxar nos computadores que você fica sabendo direitinho quem é. Folha - O sr. acha que o governo federal está sendo fisiológico? Virgílio - Li na Folha que até as agências reguladoras de telecomunicações, petróleo e energia, criadas como órgãos modernos e moralizadores, estão sendo loteadas. Temos o dever de impedir isso. Folha - O sr. acha que o governo anda em más companhias? Virgílio - Amazoninos, Newtões, Camelis, Malufs e Rorizes? Não sei quantos votos cada um tem no próprio Estado, mas quanto cada um tira nos outros Estados? Quero fazer um desafio ao presidente: que reúna essa gente e faça um comício na praça da Sé (SP), convidando atores, professores, intelectuais. Não dizem que a gente não dá sugestão? Vou dar mais uma: que o presidente leve essa gente para fazer um comício na praia de Ipanema. Quero ver. Folha - O governo ofereceu ao sr. cargos no Amazonas para compensar a perda do porto? Virgílio - Quem fala isso me insulta. Defendo uma nova relação do PSDB com FHC. Quero acabar com uma certa tendência de FHC ao masoquismo. Quero que passe a tratar com dignidade e lealdade quem é digno e leal com ele. Chegamos a defender o projeto que mudava o cronograma da renda mínima para os velhinhos. Isso nem é projeto, é genocídio. Texto Anterior: Extraordinário Próximo Texto: Presidente promete dar atenção Índice |
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