São Paulo, quarta-feira, 10 de dezembro de 1997
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O problema da seleção é o meio, não o ataque

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

A dupla Bebeto-Romário reacendeu a discussão sobre a formação do nosso ataque. Nem estou aí com isso, pra falar a verdade, na forma vesga com que a galera se expressa hoje em dia, falando o que devia dizer.
Pra mim, tanto faz reeditar o duo do tetra como manter Romário-Ronaldinho, ou Edmundo-Romário, Edmundo-Ronaldinho, Muller-Ronaldinho etc. Eis uma peça que, com qualquer formação, não haverá de dar chabu.
É claro que Ronaldinho está praticando -há muito tempo- um futebol dos sonhos e que qualquer sujeito em juízo normal haverá de colocá-lo como titular. Mas Copa é um campeonatozinho tão curto e rasteiro que não permite vacilo. E até mesmo uma indesejável, mas possível barração do maior atacante do mundo no momento, na hora do vamovê, deve constar da agenda geral.
Nós temos mesmo é uma dúvida e um problema. A dúvida é saber quem formará a dupla de armadores, ao lado de Denílson: Leonardo? Juninho? Rivaldo? Giovanni? Quem sabe recuar por ali Bebeto, destro e ágil atacante, fórmula já discutida anos atrás? Já o problema é ajeitar a última linha de defesa, e, nesse caso, pouco importa saber quem formará o miolo de zaga. O mais importante é criar um sistema, um mecanismo de cobertura que funcione, independentemente dos nomes. O que não podemos é continuar jogando em linha e queimando zagueiro atrás de zagueiro.
Quanto ao meia-direita, parceiro de Denílson, Leonardo é o preferido de Zagallo. Mas será o ideal? Confesso que preferiria um destro por ali, com ímpetos ofensivos, mas também senso de organização e disposição para o combate. Rivaldo tem esses dois últimos atributos, mas é canhoto incorrigível, o que faz nosso time adernar para a esquerda, pela própria natureza. E Juninho é leve e inconstante.
Ah, se Giovanni fosse um pouco mais ativo...
*
Mário Vítor Santos teve o cuidado de advertir, no início, que se tratava de um simples palpite. E a prudência de alertar, no fim, que era apenas uma tese o tópico sobre futebol, paixão e espetáculo, na sua coluna de domingo.
Tese perigosa, que pode se confundir com as velhas diatribes dos cartolas, segundo as quais os torcedores fogem dos estádios espantados pela crônica esportiva paulista, que, em vez de promover os espetáculos, como os congêneres de outros Estados, só mete o pau.
Claro que o nosso ouvidor-geral não quis dizer isso. Disse apenas que contribuímos, modestamente, para o êxodo do torcedor dos estádios, com esse olhar olímpico e dissecador. Acredito que sim. Aliás, prefiro acreditar que assim seja. E que o nosso vedor (na bem lusitana expressão do mestre Brandão), ao fazer tal constatação, estivesse elogiando o trabalho daqueles que se mantêm, olimpicamente, relatando e analisando os fatos do futebol, como diante de um concerto de Brahms. Afinal, eis uma postura civilizada, que deve contribuir muito para a construção da cidadania, expressa na repulsa da maioria em compactuar com as mutretas armadas pelos incorrigíveis cartolas brasileiros.

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