São Paulo, quarta-feira, 10 de dezembro de 1997
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Kyoto chega ao final hoje sem propostas concretas

RICARDO BONALUME NETO
ENVIADO ESPECIAL A KYOTO

O último dia da conferência sobre mudanças climáticas começa hoje em Kyoto com praticamente tudo ainda para ser decidido. Ontem, um rascunho de protocolo foi divulgado por um dos presidentes da conferência, o argentino Raúl Estrada-Oyuela. Foi uma unanimidade: o texto foi bombardeado por todas as partes.
A ministra do Ambiente canadense, Christine Stewart, considerou as discussões de ontem "frustrantes", pois a maioria dos países ficou à espera de uma decisão das negociações entre os participantes-chave da conferência -os EUA, a União Européia e o Japão.
Os debates entre essas três partes constituem o núcleo da conferência -eles devem definir qual a proporção em que vão reduzir a emissão de gases que causam o aquecimento do planeta, o chamado efeito estufa. O resto depende dessa definição básica.
O rascunho de Estrada-Oyuela indicaria um redução, em relação aos valores verificados em 1990, de 8% na emissão de gases pela União Européia, 5% pelos EUA e 4,5% pelo Japão entre 2006 e 2010. Esses percentuais representam menos do que os europeus estavam dispostos a princípio (redução de 15%), mas indicam uma concessão dos EUA, que estavam querendo apenas estabilizar suas emissões em 2010 pelos índices de 1990.
O grupo ambientalista Greenpeace criticou duramente o rascunho. Para eles, o texto não tem credibilidade e "tem mais buracos que um queijo suíço" -isto é, permite o aumento das emissões.
O número americano é um indício da "flexibilização" da posição dos EUA anunciada anteontem pelo vice-presidente Al Gore, em sua visita a Kyoto. O país, porém, pode estar disposto a realizar cortes mais profundos.
Fontes do governo norte-americano disseram que Washington concordaria com um índice de corte nas emissões entre 6% e 9%.
O principal negociador americano, o subsecretário de Estado para Assuntos de Economia, Negócios e Agricultura, Stuart Eizenstat, afirmou que os EUA estão demonstrando essa flexibilidade em vários pontos. O subsecretário, porém, não quis os números na mesa de discussões, devido à delicadeza das negociações.
Para ele, o protocolo tem de ser "abrangente", incluindo não só os números de redução, mas mecanismos que permitam comércio de créditos de emissão.
Ontem surgiu um novo nome no jargão da conferência: "guarda-chuva", significando um grupo de países que poderiam negociar as emissões entre si, em contrapartida à "bolha" da União Européia (idéia de que os europeus sejam vistos como uma entidade única).
O guarda-chuva abrigaria os EUA, Japão, Austrália, Canadá, Nova Zelândia e Rússia -esta, que tem emitido bem menos depois do colapso do comunismo e do fechamento de indústrias altamente poluentes, teria um crédito grande, que interessaria aos outros países adquirir.
Entre os mecanismos que mostram a "flexibilização", Eizenstat citou a proposta brasileira -os países desenvolvidos devem patrocinar projetos para conter a emissão de gases nos países em desenvolvimento.

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