São Paulo, quarta-feira, 10 de dezembro de 1997
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Tibetano põe esperança em colapso chinês

SÉRGIO MALBERGIER
DA REDAÇÃO

Samdhong Rinpoche, 59, é o presidente do Parlamento do governo do Tibete no exílio. Sendo um budista tibetano, não expressa raiva ao falar da China, que ocupou o Tibete em 1950 e é acusada de promover um aniquilamento cultural dos tibetanos.
Citando o Dalai Lama (líder político e espiritual), Rinpoche pede compaixão e amor pelos chineses. E diz que o modelo político e econômico da China comunista tem os dias contados.
No país para inaugurar o Comitê Parlamentar Brasil-Tibete, hoje em Brasília, falou à Folha ontem durante passagem por São Paulo.
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Folha - A China está se fortalecendo política e economicamente no cenário internacional. Isso prejudica a causa tibetana?
Samdhong Rinpoche - Não é correto dizer que a China está ficando mais forte. Na verdade, a China está ficando mais fraca. O crescimento econômico chinês é artificial, baseado no uso de mão-de-obra quase escrava.
O compromisso ideológico chinês está se perdendo. A economia de mercado e o regime político totalitário não podem conviver para sempre. Isso é uma grande contradição. O movimento pró-democracia está crescendo.
Folha - O sr. acha que, com mais democracia na China, a causa tibetana sairá ganhando?
Rinpoche - Certamente. Se a China se tornar uma democracia, o Tibete ganhará autonomia. Estamos otimistas que haverá em breve uma mudança de poder interno na China e mudanças no Tibete.
Folha - A decisão de abandonar a reivindicação de independência política em troca da autonomia cultural é um gesto pragmático?
Rinpoche - Sim, mas é também uma resposta à proposta chinesa de negociar conosco (de 1979).
Folha - Há contatos oficiais do governo tibetano no exílio com o governo chinês?
Rinpoche - Não há mais contatos desde 1993. Usamos todos os meios possíveis para restabelecer o diálogo. É a única forma de conseguirmos autonomia.
Folha - Parte da cultura tibetana já se perdeu?
Rinpoche - Nós estamos conseguindo preservar a cultura tibetana intacta por enquanto, mas somos em número muito pequeno no exílio. Se a situação continuar assim, a herança cultural irá se deteriorar gradualmente.
Folha - O que o sr. pede a seus simpatizantes brasileiros?
Rinpoche - Os simpatizantes têm muitas formas de apoiar o Tibete. Estamos reivindicando que Pequim volte a negociar sem precondições. Os estrangeiros devem pressionar os chineses para que aceitem isso.
Podem ocorrer ações junto ao governo do Brasil para sensibilizá-lo a fazer pressão junto à China. Outra coisa simples a ser feita é rezar pelo povo sofrido do Tibete e para que os governantes chineses tenham compaixão.
Folha - Como o sr. avalia a posição brasileira em relação à questão tibetana?
Rinpoche - O Brasil tem boas relações comerciais com a China. Isso poderia ser usado para convencer Pequim a reconsiderar o problema tibetano.
Folha - Por que a liderança tibetana defende a postura de não-violência?
Rinpoche - Como budistas, temos de amar todos os seres. Não há sentido em discriminar os chineses. Não é uma luta entre tibetanos e chineses. Nem uma luta política do Dalai Lama contra Pequim. É uma luta contra a injustiça.
O poder político para nós não é muito importante. O Dalai Lama já disse que aceita a soberania chinesa com autonomia cultural, o que chamou de "caminho do meio".

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