São Paulo, sexta-feira, 12 de dezembro de 1997
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Laudo isenta TAM, mas exige mudanças

RODRIGO VERGARA
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

O relatório final sobre a queda do Fokker-100 da TAM em São Paulo, em 31 de outubro do ano passado, que matou 99 pessoas, foi apresentado ontem em Brasília. A Aeronáutica concluiu que não houve falha da empresa no acidente.
O laudo traz oito recomendações à TAM. Na linguagem aeronáutica, recomendações significam providências que a empresa deve tomar para corrigir irregularidades detectadas nas investigações.
"Não existem falhas da empresa que tenham contribuído, diretamente ou indiretamente para o acidente", disse o coronel Douglas Ferreira Machado, chefe do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos.
Ao todo, o relatório traz 48 recomendações, endereçadas a diversas partes envolvidas na investigação, como órgãos da própria Aeronáutica, fabricantes de peças e à própria Fokker (leia abaixo).
Treinamento
Metade (quatro) das recomendações feitas à TAM exige melhoria no treinamento da tripulação.
Em dois casos, a exigência é que a empresa enfatize aspectos do treinamento já exigidos.
O laudo diz, por exemplo, que a TAM "deverá, nos treinamentos, (...) enfatizar a importância da não-tomada de ação abaixo dos 400 pés". O texto se refere à legislação aérea brasileira, que prevê que, quando houver uma anormalidade na aeronave na decolagem, a tripulação não deve tomar nenhuma ação antes que o avião chegue a 400 pés (cerca de cem metros).
No acidente, os tripulantes tomaram atitudes antes de o Fokker chegar a essa altura, o que contribuiu para desestabilizar o avião.
O chefe do Cenipa, no entanto, não vê falha da tripulação. "Houve tomada de ação, mas não foi identificada como iniciativa errada do piloto", disse Machado.
A Aeronáutica pede ainda reforço no treinamento de CRM (cockpit resource management, ou gerenciamento de recursos de cabine), cujo objetivo é preparar piloto e co-piloto para dividir funções em situações de pane.
No acidente, alguns procedimentos básicos de decolagem que ajudam a aeronave a ganhar altura, como recolhimento de trem de pouso, não foram tomados.
Registro de panes
Outras duas recomendações dizem respeito ao registro de panes no livro de bordo que cada avião deve ter. Uma cópia desse registro deve ficar em terra a cada pouso.
Sobre isso, a Aeronáutica exige da TAM que seja alterado o livro de bordo para "melhorar os registros das panes, de modo que cada folha seja destacada a cada trânsito (pouso e decolagem), ficando uma cópia na base que executou o retorno da aeronave ao vôo".
A exigência se deve ao fato de que a Aeronáutica não encontrou, no aeroporto de Congonhas, o registro de panes do Fokker-100 acidentado, que indicaria eventuais problemas preexistentes.

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