São Paulo, sexta-feira, 12 de dezembro de 1997
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Marsicano apresenta a "cítara brasileira"

CARLOS RENNÓ
ESPECIAL PARA A FOLHA

Depois de mais de vinte anos estudando o gênero, o introdutor da raga no Brasil, o paulistano Alberto Marsicano, busca agora definir um estilo de "cítara brasileira". Os primeiros resultados disso ele apresenta hoje e amanhã no Grande Auditório do Masp.
O objetivo do músico é fundir a milenar técnica indiana de tocar o instrumento com a aplicada à nossa viola de dez cordas. Das cinco peças previstas pelo recital, todas de sua autoria, sobretudo uma evidencia esse procedimento: "Nas Águas Cristalinas do Rio Sarasvati".
A composição foi criada na escala da raga "Sarasvati", similar ao modo usado na música dos violeiros nordestinos.
Ao executá-la, Marsicano incorpora à cítara o rasqueado usualmente feito nas violas. Ao mesmo tempo, o percussionista Caíto Marcondes também emprega um suingue brasileiro ao tocar a tabla e os nativos caxixi e pau de chuva.
Outra peça experimental do programa é "Raga para Debussy", baseada na escala debussyana dos tons inteiros. Sabe-se que escalas indianas e balinesas inspiraram o compositor francês (introdutor da noção de tempo vago da música oriental no Ocidente); Marsicano revela na cítara a orientalidade do som de Debussy.
As demais composições do concerto respeitam as estruturas indianas tradicionais. Nelas Marsicano quer mostrar especialmente a pessoalidade do seu toque e de sua improvisação, influenciados por Bach e Villa-Lobos.
Raga
Inventada no século 14, a cítara possui 18 cordas, das quais apenas sete são tocadas e 11, raramente arpejadas, vibram em ressonância. O instrumento é usado na execução do principal gênero clássico indiano, a raga, música não escrita e improvisada, constituída de sequências melódicas de quatro a no máximo sete notas cada.
Nos anos 60, ela foi trazida para o Ocidente pelo citarista Ravi Shankar, cujo trabalho ganhou divulgação dos Beatles, particularmente de George Harrison.
Marsicano teve aulas de grupo com ele, em Londres, na década de 70; foi quando aprendeu as bases da raga.
Incursão no pop
Desde então estudou três vezes na Índia. Tem dois CDs, "Benares" e "Impressionismos". Colaborou com Haroldo de Campos, acompanhando leituras do poeta no disco "Galáxias", e com Julio Bressane, tocando num filme ("Os Sermões") e compondo para um vídeo ("Galáxia Dark") do diretor. Entre os artistas pop com quem gravou estão Chico César e Titãs.
Aos 45 anos, é também tradutor de haicais. Faz um tipo exótico nas ruas dos Jardins, em São Paulo, onde pode ser visto andando sempre de roupas brancas (às vezes com uma capa preta), cabelos, loiros, só dos lados. Uma figura inconfundível.

Artista: Alberto Marsicano
Onde: Grande Auditório do Masp (av. Paulista, 1.578, tel. 251-5644)
Quando: hoje e amanhã, às 20h30
Quanto: R$ 10,00

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