São Paulo, sexta-feira, 12 de dezembro de 1997
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Diretor e Scorsese se encontram

AMIR LABAKI
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

A proximidade dos lançamentos de "Deconstructing Harry" e de "Kundun" levou a revista dominical do "The New York Times" a promover um inédito encontro entre Woody Allen e Martin Scorsese.
Apesar de nova-iorquinos radicais e quase contemporâneos (Allen tem 61, Scorsese, 55), os cineastas raramente haviam se encontrado. Mesmo a colaboração em "Contos de Nova York" (1989) fracassara em catalisar a aproximação.
A conversa, realizada em outubro último no escritório de Scorsese, foi muito além da troca de gentilezas.
Woody Allen e Martin Scorsese discutiram seus processos de trabalho, a relação com Hollywood, a importância da crítica e o atual estado do cinema americano, entre outros temas.
Allen esquenta a conversa perguntando se Scorsese, como Bergman e ele próprio, sente-se "desencorajado" ao ver um grande filme quando está montando um novo filme.
"Não desencorajado", precisa o diretor de "Touro Indomável", "mas me faz reavaliar o que estou tentando fazer".
Ambos partilham, a seguir, a crítica aos métodos da Hollywood atual. Scorsese deplora a rápida assimilação dos novos talentos pela máquina dos estúdios: "Eles fazem um bom filme por menos de US$ 1 milhão e, então, bons ou maus, são colhidos pelo estúdio e recebem US$ 30 milhões. É cedo demais. Jovens diretores deveriam aprender a lidar com dinheiro e a lidar com a estrutura de poder".
Para ele, "o fim dos anos 70 foi o último período de ouro do cinema americano". "O poder dos diretores acabou com 'Portal do Paraíso'", deplora, referindo-se ao fracasso da produção de Michael Cimino que levou à falência da United Artists.
Crítica
Allen comemora a sorte de "jamais ter tido que lidar com a estrutura hollywoodiana": "Não sei se teria sobrevivido se tivesse que fazê-lo".
Outro ponto comum é a desolação frente ao crescente desconhecimento da história do cinema mesmo entre estudantes que pretendem seguir carreira. Concordam ainda no desconforto frente à revisão da própria obra. "Aborreço-me com as emoções (do filme), (...) das pessoas no filme, dos atores", diz Scorsese.
Para Allen, é uma questão de perfeccionismo. "É a pura brutalidade de ver meu trabalho e sentir que, se pudesse recomeçar o filme de novo, o teria feito melhor."
A reação frente a crítica os opõe. Allen acha que "resenhas podem ferir, mas não ajudar". Já Scorsese assume "depender dos críticos". "Eles tornam possível a certas pessoas em certos estúdios num momento dado entrarem com dinheiro em meu novo filme", reconhece.
(AL)

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