São Paulo, sábado, 13 de dezembro de 1997
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Normas do euro ameaçam rachar UE

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A LONDRES

O euro, a moeda única que a UE (União Européia) lança em 1999, ainda nem nasceu, mas já se tornou o epicentro de uma enorme polêmica, que dominou ontem a abertura da cúpula de fim de ano do conglomerado.
A discussão é entre os "ins" e os "outs", ou seja, os que estarão dentro e fora da primeira fornada de países que adotarão o euro.
França e Alemanha, os dois "ins" mais poderosos, propõem a criação do "EuroX", um clube restrito aos países que usarão o euro de saída, para discutir as questões econômicas comuns. Supõe-se que serão 11 os países na primeira leva do euro.
O Reino Unido, o mais forte dos quatro "outs", não admite ficar de fora dessas discussões, mesmo que só venha a aderir ao euro mais tarde.
O ministro alemão de Finanças, Theo Waigel, propôs uma fórmula intermediária: os "outs" poderiam participar do EuroX, mas apenas como observadores.
Resposta do primeiro-ministro britânico, Tony Blair: "Não pode haver pequenos clubes que dirijam a política econômica da UE"
Tréplica de Dominique Strauss-Khan, ministro francês das Finanças: "Não podemos ter um ministro de um país com moeda diferente participando em conversas entre países que têm uma mesma moeda".
Franceses e alemães argumentam que o organismo decisório na UE, em matéria de economia e finanças, continuará sendo o Ecofin, o conselho de ministros de economia e finanças.
O EuroX discutiria apenas as questões relativas à implementação do euro, a moeda única.
É óbvio que o argumento não convence os "outs", porque eles serão igualmente afetados por tais decisões, ainda que preservem, num primeiro momento, a sua própria moeda.
Criou-se, com isso, uma "situação delicada", como admite, por exemplo, o premiê holandês, Wim Kok. Pior: "Se o problema não for resolvido, criaria um ambiente ruim em torno do euro".
Só à noite surgiu uma fórmula de compromisso, ainda não oficializada.
Um texto preliminar confirma o Ecofin como o principal organismo decisório em matéria econômica para todos os 15 membros da UE.
Mas deixaria ao EuroX a discussão, entre outros pontos menos significativos, da cotação do euro em relação às demais moedas do mundo.
É óbvio que a cotação do euro afetará também o Reino Unido, embora este mantenha a libra esterlina como sua moeda até pelo menos 2002. Ainda assim, o porta-voz de Blair disse que o texto preliminar "atende às inquietações" de seu governo.
Mas o EuroX não é o único motivo de divergência em torno do futuro europeu com moeda única.
O governo holandês pretende discutir, à margem da cúpula, a questão do comando do futuro BCE (Banco Central Europeu), o todo-poderoso organismo que zelará pelo euro.
O holandês Wim Duisenberg era tido como o nome natural para o posto, já que dirige o Instituto Monetário Europeu, embrião do BCE.
Mas a França lançou, no mês passado, a candidatura de Jean-Claude Trichet, presidente de seu próprio banco central.
Foi uma surpresa para todos os parceiros e um susto para a Alemanha. O governo alemão, partidário fechado de Duisenberg, suspeita que a França queira introduzir a política em um organismo que deveria ser técnico.
Ao BCE caberá determinar, por exemplo, a taxa de juros a ser aplicada por todos os 11 países que, em tese, formarão a primeira leva do euro. É um instrumento decisivo para estimular ou contrair a economia, o que, por sua vez, ajuda ou atrapalha, respectivamente, os governos de turno.

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