São Paulo, sábado, 13 de dezembro de 1997
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POBREZA E RECESSÃO

O IBGE publicou os novos dados sobre as contas nacionais, as quais registram números que suscitam alguma surpresa e certo desânimo.
Em 90, e mesmo em 93, 45% da renda nacional era dos salários. Lucros, aluguéis e juros, por sua vez, ficavam com uma fatia de 33% do PIB. Em 96, os salários recebiam 38%, contra 41% da remuneração do capital. Os números são um tanto surpreendentes, pois a margem de lucro das empresas parecia ter sido reduzida depois da abertura comercial e teria havido um aumento dos salários depois da estabilização.
Essa mudança nas fatias do PIB que cabem ao capital e ao trabalho talvez possa ser explicada por dois fatores. Primeiro, a alta dos juros depois do Real. Segundo, a redução do número de empregos na década de 90, embora seu ritmo tenha sido reduzido no início do governo FHC.
Os números das contas nacionais parecem um tanto mais desanimadores quando associados aos dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), também do IBGE. Entre 87 e 96 aumentou o número de pobres nas grandes cidades. Há hoje mais famílias com renda menor que três salários mínimos do que no ano em que o Cruzado fazia água, após uma febre artificial de consumo.
Mas os dados da POF indicavam que, depois do fundo do poço da superinflação, do desemprego e da recessão do período Collor, a desigualdade teria diminuído um pouco com a transferência de renda do Real. Ainda assim, a situação socioeconômica era pior que a dos anos 80. Agora, o Sistema de Contas Nacionais mostra que mesmo a melhora pós-Real deve ser relativizada.
Ainda mais lamentável é que, mesmo antes da perspectiva de recessão em 98, percebia-se que já em 97 cessava a transferência de renda para os mais pobres -isso num país em que 10% da população tem cerca de 50% da renda nacional. Mas em vez de sucumbir ao desalento é preciso ver a lição dos números. A estabilização, imprescindível para um projeto econômico sustentável, mal arranha o problema da desigualdade, apesar de evitar que ele piore, o que seria catastrófico. Uma moeda estável, porém, é só um início. E um pequeno início, num país injusto como o Brasil.

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