São Paulo, sábado, 13 de dezembro de 1997
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A cavalaria perdeu o passo

CLÓVIS ROSSI

Luxemburgo - Durante anos, o FMI (Fundo Monetário Internacional) parecia a cavalaria dos filmes antigos de faroeste: assim que chegava, punha ordem na casa, à custa, claro, de um punhado de nativos mortos ou feridos no caminho de sua amarga medicina.
A crise asiática está provando que, desta vez, a cavalaria perdeu o passo e o rumo.
E nem é preciso ser de esquerda para desancar o FMI. Basta ler o notável artigo que o economista norte-americano Jeffrey Sachs (Harvard University), de impecáveis credenciais liberais, publicou quinta-feira no jornal britânico "Financial Times".
Seria uma irresponsabilidade tentar resumir neste pequeno espaço os argumentos de Sachs. Basta citar o fato de que, no seu relatório anual de 97, divulgado faz apenas três meses, o FMI elogiava despudoradamente as economias que agora estão recolhidas à UTI.
Sobre a Coréia, dizia: "a diretoria (do Fundo) saúda a impressionante performance macroeconômica" e "congratula as autoridades por seu desempenho fiscal invejável".
Sobre a Tailândia, "a diretoria" também tinha apenas elogios para sua "marcante performance econômica e pelo consistente registro de políticas macroeconômicas sadias".
Convenhamos que um médico que examina um paciente e não é capaz de fazer um diagnóstico minimamente correto não é a figura mais confiável para, três meses depois, receitar um remédio, seja qual for o remédio.
Fosse um médico qualquer, já seria um tormento. Mas Sachs lembra que o FMI é o doutor que "dita as condições de vida econômica para 75 países em desenvolvimento com cerca de 1,4 bilhão de pessoas".
Esse dado é tremendamente assustador, se se fizer a perguntinha óbvia: se o FMI errou no diagnóstico coreano e tailandês, faz só 90 dias, não pode errar de novo agora, "matar" o paciente e liberar de vez um vírus que já contagia outras economias?

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