São Paulo, domingo, 14 de dezembro de 1997
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Canadá quer fazer acordo de cooperação com o Mercosul

Primeiro-ministro canadense visita o Brasil em janeiro

ISABEL VERSIANI
ENVIADA ESPECIAL A OTTAWA

O Mercosul deve assinar um acordo de cooperação com o Canadá, em janeiro do ano que vem, nas áreas de comércio e investimentos.
Nesse mês, o primeiro-ministro canadense, Jean Chrétien, estará visitando quatro países da América Latina (incluindo o Brasil), acompanhado de todos os seus ministros, os governadores das dez províncias do Canadá e cerca de 400 empresários.
Em entrevista a jornalistas latino-americanos, Chrétien afirmou que o acordo poderá ser a base para a negociação de um acordo de livre comércio entre as duas regiões no futuro.
O documento, segundo ele, também deverá prever a cooperação entre o Mercosul e o Canadá em programas da Organização Mundial do Comércio e da própria Alca (Área de Livre Comércio das Américas).
O ministro de Comércio Exterior do Canadá, Sérgio Marchi, afirmou que o acerto será importante porque sinalizará que os países das Américas não pretendem ficar esperando os Estados Unidos aprovar o "fast track" (autorização do Congresso para o governo federal negociar acordos internacionais) para avançar nas negociações de liberalização na região.
Chrétien afirmou que seu governo ficará "desapontado" se os Estados Unidos não conseguirem a aprovação do "fast track" antes de abril, quando será realizada a Cúpula das Américas, em Santiago do Chile.
O acordo entre o Canadá e o Mercosul foi sugerido oficialmente pela primeira vez por Chrétien durante a visita do presidente Fernando Henrique Cardoso ao Canadá, em abril deste ano.
"Team Canada"
A delegação canadense visitará o Brasil, o México, a Argentina e o Chile entre os dias 10 e 23 de janeiro. O modelo da viagem de Chrétien, acompanhado de ministros e empresários, é conhecido como"Team Canada".
Em janeiro deste ano, o primeiro-ministro promoveu um "Team Canada" para a Ásia Pacífica. O esforço resultou na assinatura de negócios de cerca de de US$ 7 bilhões, segundo dados do governo canadense.
O interesse dos empresários canadenses pela viagem à América Latina foi maior do que o governo canadense esperava. Até a semana passada, 280 empresários já tinham se inscrito para participar da visita.
"Esse é o melhor sinal de que nossos investidores não foram afugentados da América Latina pela crise das Bolsas" afirmou o diretor do "Team Canada", Peter McGovern.
Segundo Chrétien, os abalos que as Bolsas brasileiras sofreram em consequência da crise na Ásia não vão afetar o interesse que os investidores canadenses têm no país.
Ele afirmou que as reformas econômicas promovidas pelo governo FHC ainda não foram concluídas e que o processo de abertura comercial do país é recente. "Da nossa perspectiva, o Brasil é um mercado importante para exportadores e investidores canadenses."
Para o primeiro-ministro, os países da Ásia estavam tendo um crescimento artificial nos últimos anos. Ele argumentou que a maioria dos países da região que entrou em crise estava investindo dinheiro de curto prazo no setor imobiliário de forma imprudente.
Tarifas
O ministro de Comércio Exterior do Canadá afirmou que o aumento de três pontos percentuais da TEC (Tarifa Externa Comum) do Mercosul, anunciado no mês passado, não foi bem recebido pelos empresários canadenses.
"Achamos que o aumento das tarifas é um passo atrás no processo de liberalização da região e esperamos que a medida seja realmente temporária", disse Marchi.
O representante do Conselho de Investimento e Comércio Global (uma espécie de confederação das indústrias), Sam Boutziouvis, disse que a elevação das alíquotas "introduziu incertezas" no cenário econômico do Mercosul.
"Depois da crise na Ásia, os empresários canadenses estão focalizando suas atenções mais pesadamente na América Latina. Se houver uma mudança na política de abertura da região, nós teremos que rever nossas estratégias", afirmou Boutziouvis.

A repórter ISABEL VERSIANI viajou a Ottawa a convite do governo canadense

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