São Paulo, domingo, 14 de dezembro de 1997
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Coptas sofrem ataques no Egito e pretendem abrir igreja em SP

PAULO DANIEL FARAH
ESPECIAL PARA A FOLHA

A Igreja Copta pretende abrir o seu primeiro templo no Brasil até o final do próximo ano.
Em seu berço, no Egito, os coptas vêm sofrendo ataques de extremistas muçulmanos. Desde 1994, cerca de cem cristãos egípcios (coptas, em sua maioria absoluta) foram assassinados.
Numa tentativa de desestabilizar o governo e espalhar terror no país, vários atentados foram cometidos.
No início deste ano, dezenas de cristãos foram mortos nas cidades de Al Fikria e Ezbet Daud. As autoridades religiosas muçulmanas condenaram os ataques.
Os coptas têm orgulho das perseguições que sofreram desde o início da era cristã.
Em 68 d.C., são Marcos, padroeiro dos coptas, foi arrastado pelas ruas de Alexandria e morto no Domingo de Páscoa. Para enfatizar esse sentimento, adotaram um calendário denominado "Calendário dos Mártires".
Nos quatro primeiros séculos da presença muçulmana, a Igreja Copta floresceu e o Egito permaneceu basicamente cristão. Os coptas podiam praticar a religião livremente e eram, até certo ponto, autônomos, desde que pagassem um imposto especial, a "jizia", que lhes garantia proteção.
No início do segundo milênio, a situação mudou. Foram impostas restrições à construção ou reforma de igrejas, testemunho judicial, adoção, herança e atividades religiosas. Houve uma melhora no século 19. A "jizia" foi abolida em 1855.
O termo copta vem do grego Aigyptios, que, por sua vez, deriva do hieróglifo "Het-Ka Ptah", o "Templo do Espírito de Ptah" (um dos nomes de Mênfis, primeira capital do Egito). Designava, antes do advento do Islã, os egípcios em geral. Posteriormente, passou a indicar apenas os que não se converteram ao islamismo.
As elaboradas liturgias em copta (idioma camito-semítico, derivado do egípcio antigo), as sete orações diárias, os cerca de 210 dias de jejum por ano (incluindo todas as quartas e sextas-feiras) e a intensa atividade monástica conferem aos coptas um caráter único.
O padre e monge copta Aghathon Anba Paul, que tem celebrado missas no Jabaquara (zona sudoeste de São Paulo), falou à Folha na casa onde constrói uma igreja copta.
*
Folha - Como o sr. explica a violência contra os coptas no Egito?
Aghathon Anba Paul - A Igreja Copta vem sendo perseguida desde a época de Jesus Cristo. O Império Romano massacrou muitos cristãos. Quando alguém dizia que acreditava em Cristo, era morto.
Hoje em dia, nas escolas e faculdades, muçulmanos e cristãos estudam juntos. Os muçulmanos nos visitam, comem e viajam conosco. Os atentados são muito recentes. E não são todos os muçulmanos, só os fanáticos. A questão do fanatismo é complicada...
Folha - Então não é um sentimento geral dos muçulmanos?
Aghathon - Não, mas é preciso controlar. Todo grupo tem influência sobre os outros. Se não forem controlados hoje, ficará difícil depois.
Folha - Quase todos os coptas têm uma pequena cruz tatuada na parte interna do pulso direito. O que isso simboliza?
Aghathon - É pena que muitos cristãos não conheçam o significado da cruz. O cristão sem a cruz não vale nada. Cristo não foi crucificado? Por causa disso, a cruz é muito importante para nós. Quando temos problemas, fazemos o sinal da cruz. Para benzer o corpo, adquirir força. A cruz tem muito valor em nossas vidas.
Folha - O sr. pretende construir uma igreja copta no Brasil?
Aghathon - Sim, queria construir bem rápido para convidar o nosso papa, Shenuda Terceiro, à América Latina.
(PDF)

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