São Paulo, domingo, 14 de dezembro de 1997
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Meses de agonia

CLÓVIS ROSSI

Luxemburgo - As mais recentes avaliações no mercado financeiro europeu, especialmente o da City londrina, contêm uma boa e uma má notícia para o Brasil. Pena que a má notícia pode até sepultar por completo a boa.
Comecemos, então, pela má: firmou-se um razoável consenso no sentido de que a crise asiática é coisa para um ano, pouco mais ou menos. Haverá momentos de relativa acomodação e haverá picos de febre alta.
Em consequência, haverá igualmente reflexos nos demais países, seja nos mercados financeiros, seja na chamada economia real. O Reino Unido, por exemplo, já está padecendo os efeitos da crise coreana, na forma de cancelamento ou congelamento de investimentos anunciados por empresas da Coréia.
A boa notícia é que os mercados, essa entidade sem rosto, mas toda poderosa, estão bastante satisfeitos com o andamento das coisas no Brasil.
A reação do governo, na forma do aumento de juros e do anúncio de um pacote fiscal de R$ 20 bilhões, já havia sido considerada positiva. O fato de o Congresso estar aprovando as famosas reformas fortalece essa convicção.
Além disso, a comparação com a Coréia começa a ser favorável ao Brasil. O país asiático dá claros sinais de hesitar em relação ao rumo a seguir, mesmo após o acordo com o FMI. O governo brasileiro, ao contrário, parece mesmo disposto a operar os cortes de gastos e aumentos de receita prometidos como resposta à crise.
Para os mercados, os efeitos do pacote sobre a atividade econômica são apenas um detalhe, não dos mais relevantes.
O problema é que o prolongamento da crise coreana pode espalhar estragos de novo pela América Latina ou pode forçar o governo, justamente para evitá-los, a manter elevados os juros. Aí, o custo da dívida interna dilui o efeito do pacote fiscal e volta-se ao ponto zero.
De uma ou de outra, serão meses de agonia.

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