São Paulo, segunda-feira, 15 de dezembro de 1997
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Participação cruzada marca siderúrgicas

LUIZ CINTRA
DA REPORTAGEM LOCAL

A privatização da Vale do Rio Doce trouxe um problema a mais para a concorrência na indústria brasileira de siderurgia, já bastante complicada num mercado historicamente concentrado e por muito tempo nas mãos do Estado.
Como acionista importante da Vale, a CSN (Companhia Siderúrgica Nacional) passou a ter acesso privilegiado a informações de pelo menos três concorrentes: Usiminas, CST e Açominas.
As participações cruzadas da Vale e da CSN, ambas comandadas pelo empresário Benjamin Steinbruch, são um assunto difícil de ser abordado.
A CSN, por exemplo, mesmo sendo uma empresa de capital aberto e que, portanto, se nutre da confiança dos investidores, não parece disposta a torná-lo mais transparente.
Procurada pela Folha em quatro ocasiões na semana passada para falar sobre o caso, a siderúrgica, por meio de sua assessoria de comunicação social, preferiu manter silêncio.
Os analistas de investimento demonstram pouca disposição para falar sobre o assunto -preferem se ater às perspectivas mais gerais do setor siderúrgico brasileiro.
O Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), órgão do governo federal encarregado de zelar pela concorrência nos mercados, demonstra praticamente desconhecer o caso -e mesmo depois de informado a respeito se limita a um "vamos estudar".
A postura do Cade serve para desmontar a tese dos analistas do mercado, segundo a qual em breve o governo deve pôr ordem nessa situação e obrigar a Vale a se desfazer de algumas das suas participações em outras siderúrgicas.
A Vale possui 22,7% do capital total da CST (Companhia Siderúrgica de Tubarão), outros 5% da Açominas e mais 7% do capital da Usiminas. Das três, a Usiminas é, hoje, a única que concorre diretamente com a Vale. A CST é concorrente potencial, mas a partir do ano 2000 entra no ramo de produção de aços planos, o principal nicho da CSN.
A mais distante, por enquanto, é a concorrência com a Açominas, mas, assim como ocorre com a CST, basta adaptar sua estrutura produtiva para entrar em disputa direta.
O caso mais problemático é a participação da CSN na Usiminas: juntas, possuem mais de 70% da produção brasileira de aços planos, sendo que outros 23% são produzidos pela Cosipa. Com um detalhe: o acionista majoritário da Cosipa é a Usiminas.
Os aços planos são matéria-prima fundamental da indústria automobilística. Em 96, esse setor comprou 29% da produção nacional, seguida da indústria da construção civil (14%) e da de embalagens (13%).
A participação da Previ, fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, também chama a atenção na estrutura acionária da indústria siderúrgica.
A Previ possui participação considerável em praticamente todos os maiores grupos do setor. Detém, por exemplo, 11% da CSN, outros 8% da Usiminas, 23% da Acesita, 11% da Belgo.
Esse quadro faz com que os analistas de investimentos estejam esperando para os próximos anos uma reestruturação acionária. Isso porque existem casos bastante esdrúxulos, como o fato de a Vale possuir 10% da CSN e esta deter 8% da Vale.
Juan Tseng, da corretora Fator, por exemplo, diz estar certo de que as participações acionárias na indústria brasileira de siderurgia vão mudar. "Essa estrutura que está aí vai mudar. Agora, como vai ficar depois da reestruturação já é outra questão", diz Tseng.
Domingos Mauro, do Unibanco, é da mesma opinião. Ele acrescenta ainda que a tendência é o setor se tornar mais eficiente, com, por exemplo, ganhos na distribuição. "As indústrias devem se voltar mais para as suas vocações", considera Domingos Mauro.
Como vai ficar essa "questão" os analistas preferem não arriscar resposta, porque nesse setor a mão do governo deixou de ser a única com a privatização, mas ainda é bastante ativa.

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