São Paulo, segunda-feira, 15 de dezembro de 1997
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Neonazismo ronda Exército alemão

IMRE KARACS
DO "THE INDEPENDENT", EM BONN

Como o gotejar de escândalos começa a se transformar em enchente, o Ministro da Defesa da Alemanha, Volker Rühe, pediu uma investigação independente nas Forças Armadas alemãs.
O inquérito deverá trazer conclusões perturbadoras sobre o estado das Forças Armadas. "Cometemos erros", afirmou o ministro alemão, durante uma aparição pública ocorrida na semana passada.
O que começa a surgir, agora de forma mais clara, é uma estimativa da contaminação neonazista entre militares alemães.
Na última segunda-feira, Rühe manteve a postura, recusando-se a aprovar um inquérito para apurar os motivos de outro escândalo, que para ele foi um outro "incidente isolado".
Mas surgiram novas revelações sobre manifestações neonazistas em dois quartéis, fora evidências, em vídeo, de uma terceira.
A cobertura da história feita pela revista "Stern" traz a feição de um quartel na cidade bávara de Altenstadt, um centro de treinamento de pára-quedistas de elite.
Segundo a "Stern", o quartel regularmente celebra o aniversário de Adolf Hitler ou o aniversário do início da Segunda Guerra Mundial.
Um antigo comandante de Altenstadt afirma que o centro de treinamento está imbuído de "tradições militares do Terceiro Reich".
As imagens e a história trazem de volta 1993. Naquele ano, alguns pára-quedistas brigaram com estrangeiros em um bar local. Poucas semanas depois do incidente, um comandante alemão resumiu o espírito do grupo: "Os pára-quedistas não perguntam, eles agem".
"Era claro que os nossos superiores queriam instruir nos jovens soldados tradições militares do passado", disse um soldado à revista "Stern". Ele afirmou que um oficial mantinha um volume do livro "Mein Kampf" (Minha Luta), escrito por Adolf Hitler, em seu quarto.
O quanto tudo isso foi relevado pelos antigos oficiais alemães será conhecido quando os "incidentes isolados" forem investigados a fundo.
O professor Wolfgang Gesserharter disse ao semanário "Die Zeit" que 20% dos candidatos à universidade mostraram tendências de inspiração nacionalista e conservadora.
Uma análise para descobrir o número de simpatizantes nazistas não existe, principalmente, porque Rühe vetou o estudo.
A posição do ministro Volker Rühe parece insustentável. As Forças Armadas o querem fora. Um destacado general quebrou a tradição e lançou-se ao ataque, acusando o ministro de ser inábil para tolerar pensamentos independentes.
Rühe, junto com o chanceler Helmut Kohl, tentou trazer um senso de patriotismo às Forças Armadas. Ao que parece, o ministro errou o alvo.

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