São Paulo, segunda-feira, 15 de dezembro de 1997
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SINAIS DE RECESSÃO

A perspectiva de demissões tem mais destaque nas montadoras do que em outros setores. Mas está longe de ser um caso isolado. Uma conjuntura difícil ameaça afetar toda a economia. Nem haveria como esperar que fosse diferente. O ritmo de atividade já era modesto, e as duas iniciativas do governo para enfrentar o crash do setor externo têm necessariamente caráter recessivo.
As taxas de juros reais, que durante o Plano Real sempre estiveram altas, foram aumentadas para níveis terríveis. Secundariamente, o corte de gastos públicos aponta no sentido de menos encomendas para a indústria e redução da massa salarial. Além disso, o ambiente de incerteza detonado com a crise nas Bolsas está desestimulando novos investimentos.
Não se deve descartar, é claro, a possibilidade de que, com uma eventual melhora no cenário internacional, os juros venham a cair mais rapidamente do que muitos hoje supõem, trazendo assim certo alento. Mas até agora desenha-se, lamentavelmente, um cenário de dificuldades para o futuro próximo.
Com a valorização do real e a queda de tarifas externas, a balança comercial do Brasil passou de um superávit de U$ 13,3 bilhões em 1993 para um déficit da ordem de U$ 9 bilhões neste ano. Para cobrir essa diferença e mais o déficit na conta de serviços, são necessárias entradas de capital da ordem de U$ 30 bilhões por ano. Não é fácil obtê-las no atual ambiente de perda de confiança.
Existem, portanto, motivos concretos para se admitir que o país enfrentará um período de forte desaceleração econômica e de aumento das taxas de desemprego. O desafio está em encontrar maneiras de amenizar o impacto social da crise, em administrar as dificuldades procurando evitar uma piora muito rápida das condições de vida dos setores de mais baixa renda. Neste momento, essa é a responsabilidade maior de toda a sociedade brasileira.

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